O que torna uma pessoa um líder? O filme sul-coreano ‘Sado’, conhecido, em português, como ‘O trono’, indica dois caminhos: a educação e o decoro. Mas, quando alguém tem outros talentos, como o aprimoramento de qualidades físicas, como o arco e flecha, ou a arte, como a pintura? Isso impede que a pessoa indique caminhos aos seus seguidores mais próximos?

A obra, indicada pelo país ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2018, trata dessas questões com uma direção magistral de Lee Joon-ik, apoiada em excelentes atores. Trata-se de um drama épico com ensinamentos aplicáveis ao nosso cotidiano, pois se baseia na história verídica de um rei do século XVIII que ordena a morte do próprio filho.
A história tem como protagonista justamente um monarca, filho de uma plebeia e acusado de matar o irmão para assumir o trono. Seu sucessor não demonstra gosto pelas decisões complexas do trono, preferindo a liberdade, como ele mesmo diz, de uma flecha voando pelo ar. Perante a rigidez da corte e do pai, ele progressivamente enlouquece e ameaça matá-lo.
Como rei, é imperiosa a tomada de uma decisão: castigar o sucessor como traidor, ordenando que beba veneno, ou fazê-lo morrer com honra, passando dias a fio dentro de uma caixa de arroz sem comer ou beber até definhar? A segunda opção permite que o neto do imperador, filho daquele que desonrou a família, suba ao trono no futuro.
O mais interessante é que esse jovem se revela extremamente sábio e bondoso. Desse modo, castigar o pai com aparente falta de sensibilidade e crueldade pode significar a manutenção do poder da dinastia. A trama complexa, ao ser tratada com extrema acuidade visual e interpretações marcantes, oferece uma aula de liderança. 
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.