Artigo: Coragem e Justiça nos anos de chumbo

Política crítica,

Artigo: Coragem e Justiça nos anos de chumbo

23 de maio de 2014

Há diferenças entre livros de memória e livros de história. Livros de memória resgatam lembranças, sentimentos e percepções de momentos que hoje, a juízo de alguém, são dignos de nota. Livros de história exigem investigação, rigor na análise das fontes, confronto bibliográfico e muitas vezes leituras mais críticas, menos apaixonadas, dos temas em questão.
Existem, no entanto, livros de memória que entram para a história. Esse é certamente o caso de ???Coragem: a advocacia criminal nos anos de chumbo???, organizado por José Mentor e apoiado pela Ordem dos Advogados do Brasil. A publicação é oportuna e acrescenta importante reflexão sobre o papel da Justiça e dos operadores do Direito na esteira dos atos que relembram os 50 anos do golpe militar de 1964.  O mérito fundamental da obra é apresentar a figura do advogado não apenas como profissional, mas como sujeito da luta política capaz de amenizar sofrimentos, salvar vidas e enfrentar diretamente as arbitrariedades. Não à toa esses advogados e suas famílias também sofreram perseguição. Vale destacar, ainda, a firme participação de advogadas mulheres, muitas delas hoje atuantes na Comissão da Verdade e engajadas na luta por Memória e Justiça. ?? verdade que, do STF às periferias de nossas cidades, diariamente injustiças são cometidas e jovens ??? em sua maioria pobres e negros – são agredidos, torturados e mortos sem direito a nenhuma defesa, fatos que demonstram o quanto ainda precisamos de quem se disponha a defender esses brasileiros com o mesmo vigor que defenderam as vítimas ??? em sua maioria de classe média ??? nos piores anos de nossa história política. De todo modo, em tempos em que setores atrasados voltam a defender ???justiça com as próprias mãos???, nada mais apropriado do que celebrar a memória daqueles que, sem perder a esperança e a coragem, compreenderam que a principal função do Direito não é vigiar, punir ou salvaguardar a propriedade privada, mas garantir a plena liberdade e a dignidade humana.  Vinícius Ghizini é historiador formado pela USP e mestrando em História Social pela Unicamp.

Gostou? Compartilhe!

Artigo: Coragem e Justiça nos anos de chumbo

Política crítica,

Artigo: Coragem e Justiça nos anos de chumbo

23 de maio de 2014

Há diferenças entre livros de memória e livros de história. Livros de memória resgatam lembranças, sentimentos e percepções de momentos que hoje, a juízo de alguém, são dignos de nota. Livros de história exigem investigação, rigor na análise das fontes, confronto bibliográfico e muitas vezes leituras mais críticas, menos apaixonadas, dos temas em questão.
Existem, no entanto, livros de memória que entram para a história. Esse é certamente o caso de ???Coragem: a advocacia criminal nos anos de chumbo???, organizado por José Mentor e apoiado pela Ordem dos Advogados do Brasil. A publicação é oportuna e acrescenta importante reflexão sobre o papel da Justiça e dos operadores do Direito na esteira dos atos que relembram os 50 anos do golpe militar de 1964.  O mérito fundamental da obra é apresentar a figura do advogado não apenas como profissional, mas como sujeito da luta política capaz de amenizar sofrimentos, salvar vidas e enfrentar diretamente as arbitrariedades. Não à toa esses advogados e suas famílias também sofreram perseguição. Vale destacar, ainda, a firme participação de advogadas mulheres, muitas delas hoje atuantes na Comissão da Verdade e engajadas na luta por Memória e Justiça. ?? verdade que, do STF às periferias de nossas cidades, diariamente injustiças são cometidas e jovens ??? em sua maioria pobres e negros – são agredidos, torturados e mortos sem direito a nenhuma defesa, fatos que demonstram o quanto ainda precisamos de quem se disponha a defender esses brasileiros com o mesmo vigor que defenderam as vítimas ??? em sua maioria de classe média ??? nos piores anos de nossa história política. De todo modo, em tempos em que setores atrasados voltam a defender ???justiça com as próprias mãos???, nada mais apropriado do que celebrar a memória daqueles que, sem perder a esperança e a coragem, compreenderam que a principal função do Direito não é vigiar, punir ou salvaguardar a propriedade privada, mas garantir a plena liberdade e a dignidade humana.  Vinícius Ghizini é historiador formado pela USP e mestrando em História Social pela Unicamp.

Gostou? Compartilhe!