A trajetória do cantor Wilson Simonal (1938-2000) é um desafio artístico e humano. A primeira questão que o envolve é a da busca do entendimento da origem e da expressão de um talento tão maiúsculo. De onde proveio aquele swing e aquela bossa tão descomunal e inigualável? Impossível explicar, mas maravilhoso de contemplar.

A segunda está na difícil compreensão da derrocada da carreira de um ser tão fora da curva. Ao se envolver no sequestro e tortura de seu contador, a quem atribuiu a sua ruina financeira, envolveu-se com o DOPS e seus funcionários, em uma confusa história que terminou por rotulá-lo como dedo-duro da classe artística na ditadura militar.
O filme “Simonal”, de Leonardo Domingues, recém-lançado, trata de toda essa complexidade. Obriga, acima de tudo, a pensar sobre como um dos maiores talentos musicais do país, com carrões e casa de luxo, mergulhou em um ostracismo do qual não conseguiu se reerguer em vida. O documentário “Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei” e o presente filme são passos nessa direção.
O presente filme, por exemplo, não enfoca os anos finais de ostracismo, em que perdeu parte de sua voz ímpar devido ao uso inadequado sob o efeito do uísque. Sem conseguir mais sucessos ou críticas positivas da imprensa, que passou a marginalizá-lo após as acusações de delação, infelizmente tornou-se uma sombra de si mesmo.  Por tudo isso, veja o filme e ouça um talento inesquecível!
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.