O Banco Central piorou a perspectiva para inflação neste ano ao reforçar os riscos para os preços no curto prazo e sustentou que trabalha para a convergência para a meta no momento adequado, mostrou nesta quinta-feira a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada.
“A maior dispersão, recentemente observada, de aumentos de preços ao consumidor e a reversão de isenções tributárias, combinadas com pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, tendem a contribuir para que, no curto prazo, a inflação se mostre resistente”, trouxe a ata, elaborando avaliação de piora feita no comunicado pós-reunião.
Esse cenário mais deteriorado dos preços contempla o reajuste de cerca de 5 por cento no preço da gasolina e recuo de aproximadamente 11 por cento na tarifa residencial de eletricidade neste ano.
Analistas fizeram duras críticas ao tom do documento, com avaliações de que o BC já não busca levar a inflação para o centro da meta neste ano, uma vez que o Copom piorou o cenário de preços sem indicar mudança na condução de política monetária.
Na ata, o Copom ressaltou também que a demanda doméstica tende a continuar robusta neste e nos próximos semestres, sobretudo com consumo das famílias. Destacou ainda que o setor público continua “expansionista”, mas lembrou que o cenário internacional limita a demanda agregada.
Esses elementos, afirmou o Copom, “são partes importantes do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas”, sem citar prazos. O comitê também voltou a indicar que vai manter a taxa básica de juros por um “tempo suficientemente prolongado”.
Nesse contexto, apesar de o BC reafirmar que a Selic será mantida por tempo “suficientemente prolongado”, já começam a surgir expectativas de alta no final de 2013. Na semana passada, o Copom decidiu pela segunda vez seguida manter a taxa em sua baixa recorde de 7,25 por cento.
“Estamos apenas em janeiro e ele já admite que inflação não vai convergir para o centro da meta”, avaliou o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno, para quem a Selic será elavada no final deste ano.
Em nota, a equipe de economistas do Banco Fator classificou a ata como “hawkish” (mais dura com a inflação) e avaliou que ela “confirma nossa expectativa de manutenção da Selic até o final do ano”, mas acrescentou que “de modo geral, se há risco de eventual alteração na taxa básica de juros, é um risco de alta”.
Os sinais mais recentes de inflação continuam mostrando pressão. O IPCA-15, a prévia do indicador oficial, subiu 0,88 por cento em janeiro, acima das expectativas mais pessimistas.
Segundo a ata, as projeções de inflação de 2013, tanto pelo cenário de referência como pelo de mercado, aumentaram e se posicionam acima do centro da meta de 4,5 por cento, pelo IPCA. Para 2014, a projeção está “ligeiramente acima do centro da meta” também em ambos cenários.
Segundo o relatório Focus do BC, o mercado prevê uma alta de 5,65 por cento este ano e de 5,50 por cento em 2014. 
Uma importante fonte da equipe econômica chegou a dizer à Reuters que, mesmo com os preços no Brasil ainda pressionados em janeiro e, “talvez”, em fevereiro, o cenário central de parte do governo é de uma queda “mais linear” da inflação, rumo à meta neste ano.
Fonte: Reuters – Tiago Pariz