Quando Jair Bolsonaro entrega seu governo ao centrão e ainda se declara integrante da tropa, podemos ter a falsa impressão de que um segundo mandato de Bolsonaro ocorrerá nos mesmos moldes.

Ledo engano.Um segundo mandato de Bolsonaro tende a ser mais absolutista e autocrático. As ferramentas para que isto ocorra existem, até mesmo dentro da lei e com roupagem constitucional.

Pode, até mesmo, ocorrer o surgimento de uma nova ordem constitucional, porque a atual carta não resistirá a mais quatro anos de investidas. Tampouco as instituições resistirão. Com ou sem centrão.

O fato é que foram poucos os dias no atual mandato nos quais houve um pouco de paz e de estabilidade institucional.

Logo no começo de janeiro de 2019 Bolsonaro, em rede nacional de TV, destilava desinformações sobre a Justiça do Trabalho, que segundo ele só existia no Brasil. Depois tivemos “golden shower”, esposa do Macron,  armas, etc e etc. Agora a panaceia do voto “auditável” .  Receita que até Trump invejaria.

Porém, os arroubos golpistas, inspirados em um mundo distante tocado pela guerra fria, são apenas aperitivos do que pode vir pela frente.

Se há alguma lucidez fora dos que ameaçam a democracia, esta é encontrada em generais como o vice-presidente Mourão, que possui uma visão de mundo clara quanto aos danos que o Brasil experimentaria como república de banana.Todavia, pouco luz para muitas trevas.

Depois de 2022, nessa toada, não haverá espaço para centrão – útil instrumento de manutenção do mandato de Bolsonaro no momento. Mais provável encontrarmos doses cavalares de vassalagem e aparelhamento das instituições.

Tanto centrão como Bolsonaro muito lembram a fábula do sapo e do escorpião.

Assim, evidente que após ultrapassar o rio o escorpião atacará o sapo com seu veneno mortal. É da natureza dos escorpiões. Jamais haverá mudanças.

Se bem que ambos, no momento, muito se assemelham aos escorpiões.

 

Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direito. MBA em Relações Internacionais-FGV/SP