Poucos processos deixam tão pouco espaço para as palavras quanto o luto. O recolhimento é o caminho mais comum, o tempo, apontado como a única cura. Mas o ser humano tem, realmente, muitas formas diferentes para lidar com tudo. Bárbara Paz escolheu não se recolher por completo. Mais: escolheu seguir com um trabalho que, no lugar de tirar sua atenção da dor, a transformaria. Não era hora de dar um tempo em tudo. Era hora de seguir com o documentário Corredor polonês, uma cinebiografia do cineasta Héctor Babenco, seu marido, que morreu em 13 de julho de 2016.
 A relação de vocês ditou o ritmo do filme? ??ramos cúmplices na alegria e na tristeza, muito amigos, acreditávamos um no outro. Ele acreditava em mim, como nenhum ser humano acreditou. Gostava do jeito que eu enxergava e me expressava com o mundo. Fazia eu ser melhor, maior, sempre. Foram os melhores anos da minha vida. De alguma forma, está registrado. Precisei eternizar. Mas imagino que tenha sido difícil. Li sobre você ter procurado um médium nesse processo também.João de Deus, o médium em que fui, foi por uma curiosidade que tinha de conhecê-lo. Estava em Brasília com a peça Gata em telhado de zinco quente, de Tennessee Williams, Héctor tinha partido fazia três meses. Eu estava com muita insônia e, em uma noite dessas sem dormir, fui até Abadiânia, uma cidade perto de Brasília, onde mora o João. Fui até lá sozinha, dormi numa pousada e, de manhã cedo, 6h30, fui até o lugar das orações, da corrente. Foi uma experiência muito forte, ele me fez muito bem. A energia do lugar, a fé nas pessoas, todos de branco rezando, a luta pela sobrevivência de cada um, procurando uma cura. Eu, que só fui lá por carência, acabei sendo levada pela energia do lugar, das pessoas, de João. Ele é uma força da natureza, um pai. Eu lembro que, depois que passei por lá, consegui dormir 11 dias seguidos sem remédio.