Pesquisadores do Programa de Mestrado em Sustentabilidade da PUC-Campinas analisaram cinco pontos na extensão do Corredor Ouro Verde do Corredor BRT (Bus Rapid Transit) de Campinas, considerando um cenário futuro, destacando os impactos esperados em três dimensões da sustentabilidade.  Eles concluíram que o comércio e o serviço de todos os pontos analisados podem ser afetados negativamente com a implantação do BRT, pois, apesar de regularizar a situação das faixas de pedestres e semáforos, ele concentra o fluxo de pessoas no canteiro central e plataformas, diminuindo o número de pedestres nas calçadas laterais, mais próximas aos estabelecimentos.

Os demais aspectos foram avaliados de forma positiva, pois as novas estruturas estão sendo planejadas contemplando os temas de acessibilidade, segurança e coleta de resíduos. Além disso, há uma tendência de redução de emissão de poluentes, considerando a utilização de ônibus maiores e mais modernos, com trajetos mais otimizados. “Esse resultado, no entanto, vai depender da adoção de veículos menos poluidores ou com poluição nula, como, por exemplo, os ônibus elétricos”, de acordo com a professora e pesquisadora do Programa de Mestrado em Sustentabilidade da PUC-Campinas, Bruna Branchi.

“Há, sim, avanços na promoção da mobilidade urbana sustentável. Isso inclui um impacto relevante na equalificação da área da cidade onde está instalado o BRT”, diz a pesquisadora. Juntamente com os pesquisadores Renata Covise Pereira, Denise Helena Lombardo Ferreira e Tadeu Souza, Bruna analisou os efeitos da implantação do BRT em Campinas no Corredor Ouro Verde na mobilidade urbana. O estudo foi publicado no livro “Temas emergentes do planejamento urbano”, de acesso livre.

Para a dimensão econômica, por exemplo, eles avaliaram a acessibilidade ao comércio e aos serviços do entorno. No caso da variável ambiental, foram considerados a qualidade da arborização, existência de lixeiras e o volume de poluentes emitidos. Oferecer uma estrutura adequada dos pontos e plataformas de embarque e desembarque em relação ao fluxo de pessoas, acessibilidade e segurança foram aspectos considerados para avaliar a dimensão social.

As obras do Sistema BRT (transporte rápido por ônibus, na sigla em português) começaram em 2017 e os trechos concluídos vêm sendo liberados para circulação desde 2019. A implantação dos corredores é a maior obra de mobilidade urbana já realizada em Campinas, com investimentos da ordem de R$ 450 milhões e deve melhorar a qualidade do transporte para cerca de 450 mil pessoas, ou 40% da população da cidade.

No Brasil, o primeiro sistema de BRT foi implantado em 1965, em Curitiba. Entre as características do sistema estão a segregação do tráfego em vias exclusivas, sistemas de bilhetes eletrônicos, aplicativos de localização, embarque e desembarque mais rápidos e seguros, acessibilidade. Há vantagens como o tempo de implantação mais curto (em média dois anos e meio) e o custo inferior ao do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e ao do Metrô.

“Mas, para obterem impactos positivos na mobilidade das cidades, os projetos BRT devem considerar as dimensões principais da sustentabilidade: a econômica, a social e a ambiental”, afirma Bruna. “Estudos em outras cidades, brasileiras e latino-americanas, onde foi implantado o BRT, mostram que seu custo-benefício é favorável, atenua os engarrafamentos, diminui emissões de poluentes, propiciando alternativas de modais para as camadas populacionais de menor poder aquisitivo. Então, neste sentido, o BRT de Campinas tem esse potencial”, complementa.

Por Patricia Mariuzzo