Se você está preparado para ver uma China em que os idosos são maltratados, as escolas de periferia são dominadas por gangues e a mulher é tratada como subalterna e objeto sexual, veja o filme “Um elefante sentado quieto”, talvez um dos mais importantes da recente produção daquele país.
A história é baseada em texto do próprio diretor, Hu Bo, autor do romance “Huge Crack”, de 2017. Logo após terminar o filme, naquele mesmo ano, cometeu suicídio, aos 29 anos. No filme, a vida é comparada, de maneira recorrente, a um terreno baldio e a um depósito de lixo. A utopia para onde os personagens buscam fugir é uma cidade onde um elefante ficaria sentado quieto num circo.
Os três protagonistas têm narrativas de dor e solidão. Um idoso de 60 anos sofre porque os pais, para dar maior conformo à família, querem colocá-lo num asilo. Um adolescente mata um colega de sala para defender um amigo que sofria bullying; e a moça por quem se apaixona tem um caso com vice-diretor da instituição. E ainda temos o irmão do rapaz morto, que se considera responsável pelo suicídio de um amigo, que o pegou em flagrante com a esposa.
A existência para todos é vista como um fardo sem esperança. Como diz o idoso, a única vantagem de ter a possibilidade de ir para outro lugar é a decisão de não ir, pois assim a chama da vida pelo menos se mantém acesa, com uma esperança que não será perdida, pois simplesmente se mantém como perspectiva. Por tudo isso, Com diversos prêmios internacionais e quatro horas de duração, o filme é simplesmente imperdível. Sofrido, mas indispensável.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.