Alguns alimentos nutrem além das células. Eles remetem à memórias de bons momentos, proporcionam prazer durante a refeição e trazem sensação de carinho quando consumidos.

Se você já provou um prato e se lembrou de uma situação marcante da infância ou de uma pessoa querida, você experimentou o fenômeno das “comfort foods” (em tradução livre “comidas de conforto”) – uma tendência que tem ganhado cada vez mais espaço à mesa.

De acordo com a nutricionista do Oba Hortifruti, Renata Guirau, essa linha de “comida afetiva” geralmente está relacionada a preparações simples e feitas com alimentos de características regionais ou culturais de cada família, que as pessoas comiam quando eram crianças e que eram preparados por pessoas próximas, como mães, avós e tias. Essa relação entre as lembranças e os aromas e sabores, também é chamada pelos especialistas de memória gustativa/olfativa.

“Nosso paladar e nosso olfato são sentidos muitos ligados à memória e às emoções. Por essa razão, eles fazem parte das lembranças que temos de muitas ocasiões, como o cheiro da comida sendo preparada pela avó, o aroma do bolo crescendo no forno ou o sabor do prato preferido da família para as comemorações. O mesmo é válido para as situações negativas que tivemos com algum alimento, o gosto e a circunstância da experiência ruim também permanecem”, explica Renata.

E existe até comprovação científica de que as comfort food têm o poder de melhorar o humor e a reduzir os sintomas de estresse!* Entretanto, segundo a especialista do Oba Hortifruti, vale ressaltar que mesmo que se siga fielmente a receita original e tente experimentar opções parecidas ou preparadas por outras pessoas que não as que temos na recordação, o prato até pode estar muito saboroso, mas nunca terá o mesmo efeito em relação à expectativa que surge quando associamos determinado alimento a uma lembrança.

“Isso ocorre porque existe todo um contexto emocional envolvido na situação que marcou a memória que não é possível recriar. Muitas vezes não é “qualquer bolo de fubá”, mas “o bolo de fubá que só aquela pessoa sabe fazer”, complementa.

Ainda assim, é sempre uma boa ideia tentar trazer sensações nostálgicas e emoções positivas para a alimentação. E para quem quiser uma aventura especial na cozinha, Renata ensina o passo a passo de três receitas com gostinho de infância: geleia caseira de morango, bolo de fubá com coco e bolinho de chuva.

GELEIA DE MORANGO
500g de morangos maduros
1 xícara de chá de açúcar refinado
Suco de 1 limão

Preparo:
1) Corte os morangos ao meio e leve todos os ingredientes para uma panela.
2) Cozinhe em fogo baixo, mexendo delicadamente, sem deixar a mistura grudar, até que fique em consistência de geleia mais mole.
3) Quando esfriar, a geleia ficará mais consistente. Cuidado para não cozinhar demais e obter uma geleia muito dura quando fria.

BOLO DE FUBÁ COM COCO
3 ovos
120 mL de óleo de girassol
240 mL de leite
1 e ½ xícara de chá de açúcar refinado
1 xícara de chá de farinha de trigo
1 xícara de chá de fubá
½ xícara de chá de coco seco ralado
1 col de sopa de fermento em pó

Preparo:
1) Bata no liquidificador os ovos e o óleo.
2) Em uma vasilha grande, misture o açúcar, o trigo e o fubá, peneirados.
3) Acrescente a mistura do liquidificador e mexa bem.
4) Acrescente então o coco ralado e o fermento, mexendo delicadamente, apenas para incorporar os últimos ingredientes à massa.
5) Leve a massa para assar em forno pré-aquecido a 180 graus, por cerca de 30 minutos.

BOLINHO DE CHUVA
2 ovos
1 xícara de farinha de trigo peneirada
120mL de leite
2 col de sopa de açúcar refinado
1 col de sopa de fermento em pó
3 col de sopa de açúcar refinado para enrolar
1 col de sopa de canela em pó para enrolar
Óleo suficiente para fritar

Preparo:
1) Em uma vasilha, misture os ovos e o açúcar e bata com a ajuda de um batedor/fouet.
2) Acrescente o trigo aos poucos, até formar uma massa parecida com a de bolo.
3) Junte então o fermento e mexa delicadamente apenas para incorporar à massa.
4) Aqueça o óleo e coloque colheradas de massa para fritar.
5) Misture o açúcar e a canela e enrole cada bolinho após frito.

Estudos mencionados*
Comfort Foods: An Exploratory Journey into the Social and Emotional Significance of Food». Food and Foodways. 13: 273–97. 2005.
Chronic stress and comfort foods: Self-medication and abdominal obesity». Brain, Behavior, and Immunity. 19: 275–80. 2005.