Por Fernando Rizzatti

A transformação digital ainda é vista por muitos como um investimento caro e trabalhoso. Mas o objetivo é justamente o oposto. A adoção de estratégias digitais no setor público, por exemplo, pode levar a uma economia de até 97% dos custos de atendimento em serviços governamentais, segundo a PNAD/IBGE. Além disso, incluir mais de 60 milhões de brasileiros na economia digital pode aumentar o PIB anual em 5,7%.

Portanto, antes de apontar que transformação digital custa caro, é preciso analisar a relação entre suas vantagens e desvantagens, além de especificar o investimento necessário para cada processo. Depois de colocar todas essas questões na balança, é muito provável que a necessidade de digitalização fique ainda mais evidente, passando sempre pela racionalização e foco na eficiência e eficácia, com redução de tempo e custos envolvidos, tanto para a empresa ou órgão público quanto para o cliente ou contribuinte.

Empresas e entidades públicas precisam entender que a digitalização de processos gera uma redução do prazo de execução e economia. Os casos em que isso não acontece estão quase sempre relacionados à metodologia aplicada, à plataforma de tecnologia utilizada e se os problemas foram devidamente avaliados, para que tenha sido possível desenhar a melhor estratégia para solucioná-los. Ou seja, só não funciona na prática se tiver tido um erro de projeto.

Um bom case de sucesso foi o ganho de eficiência com a digitalização do imposto de renda no Brasil. Antigamente, a Receita Federal tinha que imprimir os formulários de declaração em duas versões distintas: uma de rascunho e outra final. Depois, esses materiais eram despachados por correio aos milhões de contribuintes. Todos os cálculos eram feitos manualmente pelo declarante e entregues à RF pessoalmente. Tudo isso implicava em um custo significativo aos cofres públicos, sem falar no tempo e logística envolvidos nessa distribuição. Imagine o volume enorme de declarações contendo erros básicos de cálculo ou mesmo de preenchimento! Analisar e solicitar a correção de todas essas inconsistências exigia que a Receita possuísse um enorme CAC (Centro de Atendimento do Contribuinte). Com a digitalização, todos esses problemas foram resolvidos e, hoje, temos um sistema eficaz na apuração da declaração, recolhimento dos impostos devidos e no atendimento ao contribuinte.

Outro case que chama atenção e vale como aprendizado para nós vem de um país escandinavo, que em meados de 1990 era dominado pela extinta União Soviética. A Estônia construiu uma sociedade digital que é referência em administração pública. No país, apenas três serviços exigem a presença física do contribuinte: casamento, divórcio e transferência de imóvel. Dos mais de 1,3 milhões de estonianos, 98,2% possuem RG digital que garante acesso a mais de 500 serviços do governo. Além da redução da burocracia, a digitalização possibilitou ao país poupar 2% do PIB.

Imagine se o Brasil conseguisse atingir esse mesmo nível de maturidade digital? Isso só é possível com políticas de Estado, não apenas políticas de governo que mudam a cada quatro anos. A transformação digital exige planejamento e constância, além de muito estudo de investimentos. Quando isso for um ideal da população brasileira e de seus governantes, assim como ocorreu na Estônia dos anos 1990, poderemos vislumbrar um país menos burocrático e mais digital.

Fernando Rizzatti é sócio-diretor na Neotix Transformação Digital. Tecnologia aplicada ao mundo dos negócios é a essência de sua trajetória profissional, de mais de 25 anos, sempre aliada à inovação que agrega valor. Da indústria de transformação, passando pelo segmento financeiro e de economia mista, tem habilidades para entender necessidades e encontrar soluções. Acredita em equipe e união de talentos. Adora música e a inspiração para compor.  Dirige a Neotix como quem compõe uma sinfonia. Cada nota é fundamental.

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