Por Orestes Camargo Neves

“O pior lado do autoritarismo não é o de negar o seu direito à livre opinião, mas o de te querer fazer crer na existência de
um pensamento único e incontestável”

Um dia desses, o controle remoto de minha TV “me levou” a assistir ao filme Elis. O filme é sobre a conturbada vida artística e pessoal de Elis Regina, desde o início carreira, aos 18 anos, retratando o auge de seu sucesso, que rompeu as fronteiras do Brasil, até sua trágica morte em 1982. Relembra e contextualiza seus grandes sucessos e nos leva a voltar no tempo, dentre eles o clássico e icônico O bêbado e o equilibrista!

Como nossos pais, por Orestes C Neves
Elis tinha personalidade forte e, ao mesmo tempo, carente e amorosa (arrisco dizer que flertava com a bipolaridade!). Determinada, enfrentou todos os obstáculos que os tempos colocavam a uma jovem para chegar ao estrelato e se tornar um verdadeiro mito! O filme mostra, inclusive sua passagem pelos porões da ditadura e sua condenação moral pelas esquerdas ao ceder à chantagem de um inquisidor…

Quem não viveu (ou “subviveu”) esse período não faz ideia de quanto uma música como essa se tornava uma verdadeira redenção! Em meio a tanta restrição, as novas canções do Chico ,do Caetano, do Milton, do Ivan Lins, do João Bosco e outros maiores nomes da MPB era uma espécie de resgate da sanidade.

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​Em tempos em que muita gente insiste em relativizar “os dissabores” do período do governo militar e dizer que “naquele tempo, eu vivia muito bem…”, o filme “Elis” é uma boa oportunidade de reflexão sobre essa época. Pior que a relativização de tudo aquilo é a volta da polarização política, em que quem não se identifica cegamente com conclusões ideológicas recebem as pechas de “isentão”, neoliberal, comunista…

​Sonhamos com a volta do irmão do Henfil, mas ele veio e a irresponsabilidade das autoridades sanitárias o levou! As Clarisses e Eunices ainda choram, fora tanta gente que partiu por melhores perspectivas de vida, enquanto tardes, pontes e viadutos continuam caindo…

Mas, por falar em Elis Regina e suas ótimas interpretações, foi na sua voz que alguns versos que ficaram imortalizados que bem definem os tempos atuais: “Minha dor é perceber/Que apesar de termos feito tudo o que fizemos/Nós ainda somos os mesmos/E vivemos como os nossos pais”…

ORESTES CAMARGO NEVES

 

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