A exemplo da complexidade de outros assuntos, o múltiplo foi posto num único saco durante a campanha eleitoral. O Brasil enfrenta a violência. O crime é um de seus aspectos.
O crime organizado adquiriu dimensões mundiais. Movimenta trilhões de dólares. Valor que supera o de muitos PIBs nacionais. Como não adquiriria, por exemplo, o serviço eventual de um matador brasileiro, que se contenta com R$ 500,00? As ações violentas do crime organizado, no Brasil, são simploriamente tida como vinda de ordens dos presídios. E corre-se atrás de celulares nas cadeias. Em verdade, são determinadas de vários países, posto que o Brasil é um itinerário franco de passagem de drogas. E saída de armas leves, fabricadas aqui mesmo.
A grande diferença entre o crime organizado e a violência incriteriosa está precisamente na organização. Um diretor da CIA, no governo Obama, demitiu-se depois de constatar que perdera, com toda a inteligência aplicada, para o crime organizado, que se ramifica, por exemplo, do Brasil à Rússia, passando pelos Estados Unidos e pela União Europeia, sem falar-se nos países árabes “modernizados”. Um polvo que tomou conta de todas as partes do mundo. Logo, somente a vinculação de todos os Estados, dispostos a gastar boa parte de sua riqueza, poderia, sabe-se quando, pôr cobro às atividades criminosas organizadas.
Outra coisa, bem diferente, é a criminalidade “comum”. Esta, num Brasil repleto de armas de fogo, torna-nos um país trágico, mas são fenômenos distintos. Descem das favelas jovens não educados para dar o troco a uma sociedade insensível, que os pôs em tais circunstâncias. Fazem arrastões e por excesso de adrenalina acionam um gatilho, que ceifa a vida humana brutalmente.
Ao propor a erradicação da violência, inclusive mediante gestos de extermínio, não só de campanha, Jair Bolsonaro, um capitão que não só não entende de economia, mas também do próprio tema que diz ser um especializado observador, incorre em erronia decorrente de ver apenas uma árvore, a mais esquálida, sem ver a floresta, que demanda, repita-se, um governo integrado ao mundo, não inspirado por um nacionalismo xenófobo e inepto. Materializando os propósitos anunciados, poderá matar muitos “criminosos”, mesmo sem o devido processo legal, e no seio deles muitos inocentes. Enquanto isso, o crime organizado demonstrará que tem forças superiores às do Estado brasileiro.
A paz no mundo do século XXI depende da conjugação das forças de todos os Estados, da inteligência conjugada das polícias nacionais, da mudança global dos judiciários, do aperfeiçoamento do Ministério Público no planeta, das comunicações em tempo real, de aprimoramento das relações internacionais, de cujo concurso poderá advir a vitória dos Estados oficiais sobre os Estados criminosos. A atual violência no Ceará e no Pará demonstra e demonstrará que a bazófia deste governo, com a força nacional, perderá o braço de ferro com as organizações criminosas, cujas ordens emanam não apenas dos presídios brasileiros.
Já a mais simples erradicação da violência nos estados nacionais ocorrerá com a erradicação da miséria, das causas da violência emotiva e desesperada, e não por uma troca de fogo cinematográfica, nos moldes do velho oeste.
Amadeu Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.