A pavorosa tragédia que abalou nosso país neste 27 de janeiro, trouxe à tona o velho e sábio jargão popular dos ensinamentos de que ???aprendemos pelo amor ou nosso aprendizado se faz pela dor???.

Com nossos pêsames e mais profundos sentimentos às famílias de mais de duas centenas de mortos e conseqüentes feridos pelo pavoroso episódio, este país aprende a levar a sério um dos itens que deve ser a premissa básica de nossa convivência: a prevenção. Convivi por mais de trinta anos com profissionais de polícia, agentes da ordem pública, bombeiros, vigilantes sanitários, expedidores de alvarás e sei muito bem da pressão existente nesse meio, quando pseudo profissionais e gananciosos pressionam de tudo quanto é lado para conseguir licença necessária para eventos, espetáculos e casas de shows e os estádios de futebol encabeçam a lista de tais eventos.

O organizador corre atrás de tudo, do patrocinador, do artista, do local, da banda, da divulgação, do melhor som, da bilheteria, da invariável bebida, da estética, das facilitações para atrair público e mais público e este quesito não tem limite, pois o brilho da vil moeda e do lucro exorbitante e fácil, cega a todos.

Tive oportunidade como oficial da Polícia Militar de inspecionar, e na maioria das vezes, exigir mudanças e mesmo a interditar estádios de futebol que se fossem utilizados nas condições que se apresentavam, seriam verdadeiras arapucas de atração à catástrofe. Com minhas decisões de barrar estádios, inadequados fui por vezes, juntamente com profissionais que comigo atuavam chamados de ???ditadores???, ???nazistas???, ???insensíveis???, ???inimigos de time tal ou qual???, no entanto jamais deixei de pousar a cabeça no travesseiro e de dormir com a tranqüilidade do dever cumprido.

Testemunhei amigos de farda, bombeiros altamente treinados e capacitados serem pressionados por liberação de licença de funcionamento e agentes municipais ameaçados de todas as formas para expedir o competente alvará de funcionamento.

Boates e casas de shows invariavelmente maquiam de todas as formas o local para ter o documento legal, mas basta o agente da lei virar as costas e tudo é modificado em nome da estética, da fachada atraente, dos jardins pomposos.

Agora fica a pergunta: de quem é a culpa? E eu respondo: quem poderia ter colaborado para que o desastre tivesse sido evitado?

Todo nós somos culpados, pois ignoramos solenemente as mínimas regras de prevenção por isso o amargo aprendizado vem pela dor.

Oremos pelos mortos.

Capitão Crivelari- Vereador PSD Americana