Criada pelos senhores de engenhos para compensar o baixo valor do açúcar, a cachaça passou a exercer grande influência na economia brasileira e a incomodar a Corte Real Portuguesa, que detinha o monopólio comercial de vinhos e aguardente no Brasil. Com isso, os portugueses barraram a produção e venda da cachaça através de uma Carta Real.

Revoltados por terem que pagar impostos e serem perseguidos por comercializarem a bebida, no dia 13 de setembro de 1661, os produtores tomaram o poder no Rio de Janeiro durante cinco meses e assim surgiu a Revolta da Cachaça. Por conta desse episódio, desde 2010, o dia 13 de setembro ficou conhecido como o “Dia Nacional da Cachaça”.

Não é de hoje que a cachaça deixou de ser fabricada apenas por grandes destilarias. Há algum tempo as artesanais já ocupam um espaço importante nas importações, chegando a competirem em faturamento com suas tradicionais concorrentes. O grande diferencial, hoje, é o processo de democratização pelo qual o mercado desse destilado vem passando: com um investimento de R$2.000,00, e sem a necessidade de possuir uma destilaria, já é possível tornar-se um produtor.

Leandro Dias, fundador do curso online Lucrando com Bebidas, ensina todos os processos de fabricação da cachaça e outras bebidas – desde o processo de fabricação até dicas de marketing relacionadas aos rótulos e distribuição.  “Queremos possibilitar a todos que sonham em ter sua própria marca de cachaça a conseguirem realizar esse objetivo com baixo investimento inicial e sem muita burocracia” – explica Leandro.

Com mais de 350 alunos matriculados, os exemplos de sucesso não são poucos:

André Scampini era aluno de um curso que ensinava a produzir cerveja artesanal. Na época, ele trabalhava com informática e decidiu fazer o curso apenas como um hobby. Depois de um tempo, decidiu parar com as produções caseiras, até que encontrou em uma rede social a propaganda do curso que ensina a fazer o próprio destilado. “Entrei no site e achei interessante a possibilidade de aprender, em casa, como produzir diversas bebidas”, afirma o empresário.

O pai de sua esposa é produtor de cacau da região de Linhares (ES) e um dia, conversando com ela, pensou na possibilidade de criar uma aguardente de cacau. O grande desafio foi que, por ser algo ainda pouco explorado, não existia referências de produção. “Depois de alguns testes conseguimos encontrar a fórmula ideal, o que nos permitiu fazer uma parceria com uma destilaria do Espírito Santo e lançar a bebida no mercado ainda esse ano”, ressalta Scampini.

O curso online e as produções caseiras, que até então eram apenas um hobby, possibilitaram que André levasse seu negócio para outros países como Estados Unidos e Alemanha.

Embora atue na área de Planejamento e Controle de Produção, o empresário Hugo Botelho sempre quis ter seu próprio sítio com um local para pescar e ter sua própria cachaça. A ideia foi crescendo na mesma intensidade que sua paixão pela bebida, porém, ele sabia que o custo para as produzir seria muito elevado. “Com o isolamento, tive mais tempo de pesquisar sobre o assunto na internet e acabei me deparando com um anúncio dizendo que era possível ter sua própria marca de cachaça sem gastar muito”, diz Botelho.

Hugo não teve dúvidas, decidiu se inscrever no curso para conseguir uma renda extra e ainda aprimorar seus conhecimentos sobre cachaça. “Minha produção é terceirizada, comecei com um lote pequeno e em junho consegui vender 65% das garrafas. Creio que por muitos estarem optando, nesse momento, por comprar do pequeno empresário e valorizando o comerciante local, isso acabou me ajudando”, ressalta o empresário.

De acordo com a publicação “A Cachaça no Brasil: Dados de Registro de Cachaças e Aguardentes”, divulgada recentemente, houve aumento de 9,73% na quantidade de marcas de produtos classificados como cachaça, que pulou de 3.648, no ano de 2018, para 4.003, no ano passado, com um faturamento anual de mais de 10 bilhões de reais.