A I Guerra Mundial (1914 -1918), conhecida como a “guerra das trincheiras” foi provavelmente um dos conflitos bélicos mais violentos e humana e psicologicamente mais desgastantes, com combates corpo a corpo e meses passados em condições sub-humanas, em situações de fome, agonia, miséria e pobreza extremas.
?? nesse universo que incríveis histórias aconteceram. Algumas foram contadas em forma de arte. Esse é o caso do filme francês “Nos Annees Folles” (‘Anos Dourados”). Dirigido por André Téchiné a partir da adaptação de livro de Daniele Voldman “La garconne et l’assassin”, conta como um soldado desertor francês passa a viver como mulher para não ter que voltar ao front.
Essa ambiguidade gera uma tensão permanente. O soldado passa a se prostituir para ganhar dinheiro em sua versão feminina, enquanto a esposa grávida trabalha como costureira e, ironicamente, pinta soldadinhos de chumbo. ?? estabelecido assim todo um universo de dualidades no campo da sexualidade e da pura e simples sobrevivência.
Terminado o conflito, os desertores são anistiados, mas a sua reintegração à sociedade não é simples, ainda mais no caso de quem se travestiu de mulher e ganhava dinheiro com isso. A bebida é um refúgio, ainda mais pela intolerância do ex-soldado às responsabilidades ou mesmo ao choro da criança que gerou.
O desfecho trágico da narrativa apenas conclui o que já se esperava de uma personalidade insegura, não apenas para enfrentar a guerra, mas principalmente para lidar de maneira adulta com as dificuldades da existência cotidiana de qualquer um de nós.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.