O editor do NM foi entrevistado por uma amiga cientista política tratando do embate Congresso STF e da PEC 33.
Entre outros temas fala-se de Corte Suprema, mídia, PT e governo.
Cris Cardoso- Ademar Ferreira, o que voce pensa sobre o pec 33/2011? E sobre a polemica STF x Congresso?
R- Cris, Há uma clara judicializacao do processo político no Brasil. Acontece que o PT ficou com a brocha na mão no embate com o Supremo, isso por opção propria, a regulação da mídia, esta sempre tão parceira do MP e divulgadora do STF, em especial Gilmar, Joaquim e Marco Aurélio.
Cris Cardoso- A quem cabe, ou deveria caber, a palavra final sobre Constituição?
R- A sociedade tem visto o Judiciário- ao menos em tempos de julgamento do mensalão- como o ponto de certeza da verdade, o que sabemos ser um risco. Uso sempre a máxima que a política se faz da e na política. Logo, a constituição depende do momento e das vontades do mundo da política.
A emenda da reeleição em 1997, por exemplo, foi discutida no Supremo? Se houve um golpe, este sim foi o mais descabido deles, mas, como foi definido na política e a Justiça era menos saidinha ou confrontadora dos status quo do poder político, FH- o adorado da mídia dominante, nadou de braçada- e ainda teve que pagar por alguns votos.
Em suma, se a constituição é ruim, que se mude a constituição.
PT- O PT paga hoje por confrontar a grande imprensa, que se agarra a qualquer coisa para denunciar o que considera autoritarismo do governo, ou as tentativas de golpe. Talvez a culpa seja do clima de vingança que ainda rege parte do petismo.
Cris Cardoso- O Congresso deixa de legislar sobre materias que tratam do cotidiano da sociedade?
R- Ao congresso cabe legislar sobre muita coisa chata, mas importantes para nichos específicos (cidades que recebem títulos, grupos de interesse que buscam apenas reconhecimento público ou mesmo datas comemorativas). Quando se trata de temas mais relevantes, o processo todo é observado atentamente pela sociedade.
Tratar de temas polêmicos que geram conflitos com outros poderes ou mexem com grandes grupos de interesse tem sido quase exclusividade do STF, meio que seguindo o modelo americano.
O congresso sempre vai tratar de assuntos do cotidiano da sociedade, e hoje o STF tem sido mais progressista que o congresso, por mais que o PT ou governistas tentem provar o contrário. Células tronco, casamento gay e outros pontos mostram nossa corte suprema mais liberal.
Cris Cardoso– Você continua contra o voto facultativo?
R– Sim. Vivemos uma democracia muito recente, que se aperfeiçoa e vai definindo os papéis. Os modelos estão aí para serem seguidos e/ou usados como comparação. Os últimos anos têm sido palco do reposicionamento da mídia e do Judiciário. Acredito que tendemos para um modelo com classificação mais clara da mídia. O Estadão inovou em 2010 e ‘disse’ em quem votava.
Em 10 ou 20 anos, com economia ainda mais consolidada, a força do ministério público e da grande imprensa melhor definidos, o PT menos rancoroso, daí podemos começar a pensar em voto facultativo.