Essa semana a discussão sobre incluir ou não, a educação sexual no currículo das escolas, foi reacendida por uma pesquisa do Data Folha. A questão maior é que, considerando que a escola possui um papel de extrema importância na construção intelectual e pessoal do indivíduo, a abordagem de temas relacionados a tipos de gênero, identidade de gênero ou diversidade sexual, podem e devem ser abordados no âmbito educacional. Estes temas tão sensíveis são importantes também serem tratados na escola, pois a realidade que vivemos mostra que a maior parte dos casos de preconceitos e até abusos sexuais que ocorrem em nosso país são derivados da falta de entendimento do tema. Dessa forma, na escola a criança pode entender melhor todos os pontos sobre a orientação e diversidade sexual, além de ser um canal seguro para tirar suas dúvidas.

De acordo com dados estatísticos ainda temos um elevado índice de ações discriminatórias que, infelizmente demonstram muito mais falta de informações e desconhecimento sobre o tema, do que qualquer outra questão. Fato é que, ainda nos deparamos com uma triste verdade sobre a intolerância: a grande maioria das pessoas, ou não percebem que são intolerantes ou estão convencidos de que a intolerância está perfeitamente justificada. Diante deste infeliz cenário, em pleno século XXI, encontramos as questões voltadas ao gênero, como um tema sensível cercado por julgamentos morais e preconceitos, quando é, na verdade apenas uma característica da personalidade humana. Ou seja, é preciso reafirmarmos o compromisso com a transparência e o respeito a todas as pessoas, independente, de sua diversidade sexual ou identidade de gênero.

Estes dados demonstram a importância da escuta, do cuidado e do acolhimento dessas crianças e jovens pela escola, no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade que, certamente, provocam mudanças severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores e com o mundo a sua volta, possibilitando ainda, o transporte do trauma sofrido para a vida adulta, por não se aceitar ou aceitar seus desejos, ou não compreender os desejos e escolhas do outro. Entende-se que a orientação sexual é apenas mais uma característica de um sujeito, dentro da expressão de sua sexualidade, que é subjetiva e única. Ela engloba tudo aquilo que a pessoa é capaz de construir em relação ao amor, ao carinho e ao sexo, e não o que o outro acredita ou quer dela. Já que nenhum indivíduo é igual ao outro, e isso inclui também pensar em sua orientação sexual.

Enfim, a escuta empática e ativa é o principal instrumento de trabalho do profissional de educação que irá fazer a abordagem. Dependendo da idade dessa criança, material lúdico que trata do tema é imprescindível para que resultados positivos sejam alcançados. Permitir que a criança ou jovem tire suas dúvidas e não imputar neles julgamentos ou repressões é primordial. Todos os materiais devem ter um ponto básico de preservação do respeito e limite de cada indivíduo. Pois, a educação sexual é uma das formas mais eficazes de prevenir e enfrentar o preconceito e desconhecimento. O diálogo sobre temas que envolvem gênero e orientação pode trazer muitos benefícios para a saúde sexual, física e emocional de crianças e adolescentes. Saber a hora e a melhor maneira de falar sobre sexualidade com as crianças e adolescentes é muito importante. Além disso, incentivar a comunicação e o diálogo, provocando e promovendo um ambiente de segurança e confiança, podem ser grandes estímulos para que a criança não se intimide

 

Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista