Após a segunda metade da década de 1980, a Educação Sexual, nas escolas, vinha caminhando relativamente bem, e as pesquisas apontavam que, desse período até a primeira década do século XXI, um número significativo de educadores concordava  com a proposta de a escola ser, também, responsável pelo ensino da sexualidade, assim como as famílias, de um modo geral, estavam de acordo. A partir da criação, pelo MEC, dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1995, que trouxe a proposta do ensino da sexualidade, como tema transversal, nas escolas, algumas iniciativas esparsas foram concretizadas na formação continuada dos professores.
Há quase três décadas, os formadores de educadores sexuais vinham trabalhando, arduamente, para conscientizar profissionais da Educação de que a escola tem papel relevante na Educação Sexual, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Por volta de 2014, porém, um movimento conservador tem disseminado, no Brasil, a denúncia de que existe uma ação denominada Ideologia de Gênero, o que instaurou uma grande ruptura no meio educacional, causando verdadeiro “pânico moral”, assustando famílias e infundindo medo nos professores. São adeptos desse  conservadorismo: católicos e evangélicos fundamentalistas, em sua maioria; psicólogos; jornalistas; senadores; deputados e vereadores, entre outros, que afirmam, maldosamente, que os professores, ao abordarem o tema gênero (incluindo aí sexualidade, diversidade sexual, orientação sexual…), estão doutrinando os alunos, impondo suas ideias (daí o termo ideologia) e estimulando crianças e adolescentes a se tornarem homossexuais ou a quererem mudar de sexo. Afirmam, ainda, que a fala dos professores estimula a pedofilia, o incesto e retira dos pais a autoridade para educar, moralmente, seus filhos. 
Então, Ideologia de Gênero — termo inventado dentro da Igreja Católica, por volta de 1997, para  frear as conquistas sociais que estavam sendo alcançadas pelas mulheres e por pessoas LGBTTI — é o nome que os conservadores atribuem ao trabalho de ensinar sobre gênero e sexualidade na escola. Eles fazem uso de discursos enviesados e falsos, por meio de programas na TV, no rádio ou em canais do Youtube e no Facebook, que têm como foco  preservar o modelo de família tradicional, composto por pai, mãe e filhos, e manter a heterossexualidade como único padrão aceito de relacionamento afetivo-sexual.
Esses discursos conservadores e fundamentalistas vêm fazendo retroceder toda luta dos profissionais, a maioria professores universitários e pesquisadores, em  conscientizar profissionais das escolas de que a Educação Sexual é função tanto da escola quanto da família, e que, se estas somarem seus esforços, de maneira harmoniosa, o resultado na formação dos educandos será o mais satisfatório possível. 
Um outro agravante  dessa onda repressiva é que ela está acentuando o medo dos professores em relação a possíveis reações negativas, por parte dos  pais, aos trabalhos de Educação Sexual. Digo acentuar porque um bom número de professores, muitas vezes, já traz consigo este medo, que tem fundamento, porque a história mostra que episódios de reações negativas de pais, às vezes, acontecem e já aconteciam, desde a década de 1960. Para superar o medo é fundamental que os professores estejam bem preparados para o trabalho e, sobretudo, que sejam sensibilizados para a importância e a necessidade da Educação Sexual. Quando os professores estão cientes disto, sentem-se fortalecidos. Ensinar sobre gênero, diversidade sexual e os demais temas da sexualidade faz com que a escola tenha mais sentido para os alunos e seja mais motivadora, porque trata de questões ligadas à vida e aos seus interesses pessoais. Educar sobre gênero e sexualidade é ensinar a pensar, a desenvolver criticidade e autonomia e a respeitar todo tipo de diversidade.
Agora, então, nossa luta deverá incluir mais uma bandeira,  a de clarear o que significa, de fato, trabalhar gênero na escolas. Significa, por exemplo: eliminar o machismo e o sexismo; lutar pela igualdade e educar para o respeito à diversidade, de modo a eliminar todo tipo de preconceito, estereótipo, violência e discriminação, seja ela racial, sexual ou de religião; conscientizar a respeito dos direitos humanos, direitos sexuais e direitos reprodutivos; e refletir sobre as desigualdades entre homens e mulheres e as implicações negativas dessas desigualdades, para ambos. 
Considero lamentável que muito pouco se tem trabalhado a Educação Sexual na formação de professores e nas escolas, com crianças e adolescentes. ?? fato que até mesmo alguns educadores se deixam levar pelo discurso Ideologia de Gênero. Estou certa de que, se tivéssemos mais cidadãos cientes do  que significa a Educação Sexual e defensores de sua importância, menos ecos alcançaria o discurso conservador. Educadores precisam cercar-se de todo cuidado e muita prudência na escolha das estratégias de ensino e dos recursos didáticos, evitando dar margem para reações sensacionalistas. Desanimar, jamais! Nem recuar, nem fugir!
Mary Neide Damico Figueiró é Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL – PR – Brasil), Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da UEL, de 1980 a 2011. Atualmente, Professora Sênior da UEL e pesquisadora. Mestre em Psicologia Escolar pela USP de São Paulo (1995) e Doutora em Educação (2001), pela Universidade  Estadual Paulista – UNESP.Especialista em Educação Sexual, pela SBRASH ??? Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, por sua atuação profissional.