Durante o período de férias escolares, crianças e adolescentes ganham mais tempo livre, e, com isso, passam mais tempo conectados, muitas vezes sem a supervisão adequada. Em meio às brincadeiras digitais, festas do pijama e viagens com amigos ou parentes, aumentam os riscos relacionados à exposição precoce a conteúdos inadequados, agressões, abusos e hiperconectividade.

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Casos recentes, como o do menino que matou os pais e o irmão, de uma menina de 12 anos que desapareceu durante 5 dias e estava na casa de um homem de 18 anos, mas alegou não ter sofrido nenhuma violência, e uma quadrilha que foi desmontada pela Polícia Federal, que incentivava meninas à mutilação, entre outros crimes, vem chamando a atenção para o assunto.

Para lidar com esse cenário, pais e responsáveis precisam reforçar a presença ativa e o cuidado afetivo, como destaca Marcela Jardim (@falaseriotia), educadora física, sexóloga, educadora sexual, psicanalista e professora de Filosofia.

Supervisão afetiva nas férias: mais presença, menos punição

A culpa é dos pais? Marcela observa, do ponto de vista psicanalítico, que a proposta legislativa em discussão no Senado (PL 2251/2025) que pretende obrigar os pais a supervisionarem o uso da internet por menores de idade, deve ser analisada com cautela. “Qualquer forma de obrigatoriedade imposta de fora pode gerar resistência, especialmente quando falamos da relação entre pais e filhos. Supervisionar não é apenas vigiar, é cuidar com afeto e escuta”, afirma.

Ela destaca que a autoridade que acolhe é mais eficaz que a que apenas fiscaliza. O ideal é transformar a supervisão em um espaço de conexão, não de punição. “A internet tem sua importância, porém não substitui a afetividade, a educação, a presença de pais e responsáveis. O uso da internet está “sem controle”.

Privacidade emocional e o papel do cuidado ativo

A especialista defende que é possível supervisionar sem invadir a privacidade emocional do adolescente. Para isso, é fundamental substituir o controle pela presença afetiva. “Autonomia não é abandono. Supervisão é sobre criar um ambiente de confiança, escuta e limites claros. Conversar mais e fiscalizar menos”, comenta.

Na visão psicanalítica, a função materna e paterna, exercida por qualquer cuidador, é sustentar esse espaço intermediário entre proteção e liberdade. Essa relação permite que o adolescente se sinta seguro o bastante para pedir ajuda e compartilhar o que vive no mundo online.

Pornografia não é educação sexual

Como educadora sexual, Marcela alerta para os riscos da exposição precoce à pornografia e a conteúdos hipersexualizados nas redes. “A pornografia não foi feita para educar. Ela distorce o desejo, desumaniza relações, reforça estereótipos e normaliza a violência. Isso pode ser devastador para adolescentes em formação.”

Ela explica que o consumo de pornografia pode gerar ansiedade, culpa, vergonhas, dificuldades com intimidade e comportamentos de risco. Por isso, é fundamental que educadores e famílias falem com clareza, responsabilidade e linguagem adequada sobre corpo, desejo, consentimento e respeito.

Educação sexual é proteção

Marcela é direta: “leis punitivas têm seu lugar, mas chegam tarde. A verdadeira proteção vem da educação sexual desde cedo”. Para ela, ensinar crianças a nomear o que sentem, reconhecer situações de risco e confiar nos adultos de referência é a melhor prevenção contra abusos e exposições prejudiciais.

Educação sexual não é sobre incentivar a sexualidade precoce, mas sobre preparar emocionalmente a criança para proteger seu corpo, fazer escolhas com segurança e estabelecer limites. “A punição vem depois do dano. A educação chega antes”.

Excesso de telas e impacto no pensamento crítico

No tempo da hiperconectividade, Marcela lembra que o pensamento crítico precisa de pausa, escuta e silêncio. “Com tanto estímulo imediato, perdemos o espaço da elaboração. O cérebro vicia em dopamina rápida: likes, notificações, vídeos curtos. Isso prejudica a atenção, gera ansiedade e dificulta a reflexão”.

Ela recomenda criar momentos sem telas, incentivar atividades mais lentas e desenvolver a escuta profunda. “Não é ser contra a tecnologia. É ensinar a usar com consciência”.

Consequências físicas: sedentarismo, sono e postura

Como educadora física, Marcela também destaca os efeitos corporais do uso excessivo de telas: sedentarismo, aumento do sobrepeso infantil, distúrbios do sono e problemas posturais. “Crianças deixam de explorar o corpo e o espaço. Dormem mal, não aprendem bem e ficam mais irritadas”.

Ela reforça a importância de promover rotinas equilibradas, com movimento, brincadeiras livres e criatividade corporal. “A tecnologia faz parte. Mas o corpo também precisa ser prioridade”.

Presença, escuta e educação são os pilares da proteção

A proposta do Senado de obrigar os pais a supervisionar o uso da internet reacende uma discussão necessária: como educar e proteger na era digital? Para Marcela Jardim, a resposta passa por três pilares: presença afetiva, escuta ativa e educação integral. “Supervisionar, sim. Mas com acolhimento, não com medo. A proteção verdadeira nasce da relação”.

Em tempos de férias e maior exposição digital, a prevenção passa por conversas abertas, rotinas equilibradas e adultos dispostos a orientar, escutar e proteger com empatia.

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