Os trabalhadores coletivamente param de trabalhar e a isso chamamos greve. Ao parar de trabalhar, deixam de produzir e impõem perda àqueles que os empregam.
Na greve, o recurso humano que a empresa emprega se apresenta como gente e como sujeito político, porque é coletivo, e porque para!
O empresário pensa que se fosse uma máquina, não pararia. Se quebrasse, ele consertava ou trocava. Com gente é diferente, apesar dos patrões insistirem em chamar de recurso humano – mania de alguns de transformar o sujeito em adjetivo. Na greve, o adjetivo se coloca de maneira imperativa, como sujeito, e explicita o conflito de classe ??? entre quem emprega e quem é empregado, entre quem manda e quem obedece. A greve afirma, em um lapso de tempo, que outra situação de trabalho seria possível.
Mas há greve e greves. Todas tratam de alguma maneira de questões distributivas ??? quanto ganham aqueles que são empregados ??? ou das condições de trabalho. Há as greves propositivas, que buscam conquistar, ampliar ou consolidar direitos ??? quanto daquilo que o trabalhador adicionou e criou de riqueza e que será destinada a ele.
As greves propositivas ocorrem predominantemente quando a economia cresce, a produtividade aumenta, os lucros se realizam, a produção está alta e os estoques estão baixos. Quando a produção para, os lucros caem e essa é uma linguagem que o capital entende.
Mas há greves que ocorrem quando as coisas não vão bem. São greves defensivas; aquelas que os trabalhadores fazem porque estão no limite da perda dos direitos.
O levantamento permanente do DIEESE identificou 1.001 greves em 2017 até outubro, divididas quase igualmente entre o setor privado e público; na maioria, defensivas, coerentes com a grave recessão por que passa a economia brasileira.
No setor privado, 59% das greves ocorreram porque houve atraso no pagamento dos salários; 27%, por problemas relacionados às demandas de alimentação; 16%, por reinvindicação de reajuste salarial; 11%, por atraso no pagamento do 13o salário; e 9%, pela regularização do depósito do FGTS.
No setor público, 45% das greves defensivas de 2017 ocorreram por reinvindicação do reajuste salarial; 19% pleiteavam melhores condições de trabalho; 18% foram pelo pagamento de salários atrasados; 18%, por piso salarial; 16%, por plano de cargos e salários; 11%, para efetivação da contratação; e 10%, por demandas relacionadas à alimentação.
Paramos como forma de nos colocarmos em movimento e realizamos a transformação de recurso em gente; de força de trabalho em sujeito coletivo; de produtor de riqueza em promotor de bem-estar social. Fazemos greve porque, na luta de classe, parar é condição para andar, algumas vezes, para avançar e outras, para se defender.