Assim como muitas outras animações criadas no Japão antes da década de 20, nenhum vestígio desse filme – nem de qualquer outro curta-metragem de Shimokawa – sobreviveu aos incêndios causados pelo Grande Terremoto de Kanto em 1923, que destruiu boa parte dos materiais do primeiro estúdio de animação existente no Japão.
Fora Katsudo Shashin, não temos registro de outros filmes animados japoneses que utilizem essa técnica.
Mas qual o motivo disso?
É difícil dizer, pois essa questão pode ser analisada por diversos ângulos, desde questões orçamentárias – já que as primeiras animações feitas no Japão eram realizadas com a técnica de recortes – até questões estéticas, quando o Japão começou a produzir animações em celuloides transparentes, proporcionando uma animação mais fluida e, por consequência, mais atraente aos olhos do público.
Algo que devemos ter em mente é que as técnicas utilizadas na animação também influenciam o tipo de narrativa a ser contada. Se olharmos para o período da Segunda Guerra Mundial, percebemos que a animação produzida no Japão durante esses anos tinha como principal função serem animações propagandistas; suas histórias contavam lendas japonesas que se uniam para enfrentar os inimigos ocidentais.
Se, no início do desenvolvimento do cinema, as técnicas não haviam ainda sido estabelecidas, agora o cinema de animação era uma indústria forte e já estabelecido no cenário do imaginário popular japonês devido ao incentivo governamental para a produção desse tipo de filme. Percebe-se que a qualidade técnica deveria acompanhar o desenvolvimento narrativo, pois uma técnica complexa como a animação direta na película do filme demorava demais para ser produzida e a qualidade de fluidez dos personagens também era prejudicada.
Após a Segunda Guerra, as animações com temáticas nipônicas foram proibidas em território japonês graças à ocupação estadunidense; novamente, vemos que as narrativas dos filmes tiveram que se adaptar.
Assim a animação japonesa tomou dois rumos: animações fantásticas e extravagantes, com protagonistas animais e características cartunescas similares aos trabalhos de Walt Disney; e a adaptação de contos folclóricos de outros países.
Mais uma vez as narrativas moldam as técnicas que deveriam ser utilizadas. Agora, se as animações estavam seguindo padrões de produção ocidentalizados, as técnicas deveriam seguir um padrão similar, pelo menos no que diz respeito às animações que não tiveram destaque em festivais internacionais, como foi o caso das obras do diretor Noburo Ofuji.
Esse diretor teve reconhecimento internacional em diversos trabalhos, primeiramente com “Flor e Borboleta” (1954), que utilizava técnicas de animação em celuloide, mais tarde recebendo elogios de Pablo Picasso e Jean Cocteau com “Baleia” (1952), um filme de silhuetas multicoloridas em celofane, que lhe garantiu o segundo lugar no festival de Cannes em 1952. Em 1956, ele recebeu o prêmio máximo no Festival de filmes de Veneza com “Navio Fantasma”, também com a técnica de silhuetas multicoloridas.
As décadas seguintes foram marcadas por desenvolvimentos industriais e tecnológicos. O estúdio Toei, com seu filme “O Conto da Serpente Branca” (1958), demonstrou capacidade de ultrapassar barreiras culturais e ter destaque no grande mercado internacional.
Osamu Tezuka, Hayao Miyazaki, Isao Tahakata, Katsuhiro Otomo, Satoshi Kon, Makoto Shinkai e tantos outros cineastas produziram obras reconhecidas mundialmente, mas nenhuma delas utiliza a técnica de animação direta na película.
Pode-se pensar que é impossível a confecção de um longa-metragem utilizando essa técnica devido ao tamanho do material envolvido, que é a película do filme. Esta pode variar consideravelmente, e os formatos mais utilizados são 35 mm, medida equivalente à largura do filme, cujas dimensões do fotograma são 22,05 × 16,03 mm; 16 mm, com dimensões do fotograma de 10,26 x 7,49 mm; e 70 mm, cujas dimensões de fotograma são 52,63 x 23,00 mm.
Com certeza a limitação do tamanho do material dificulta a produção de grandes produções, mas o fato de não encontrarmos nenhuma outra obra semelhante a Katsudo Shashin pertencente à mesma época é um dado importante para pesquisadores e não deve ser descartado.
Quem sabe, num futuro próximo, haja uma onda de animações experimentais no Japão e, dentro das técnicas usadas, a animação direta possa trazer outros filmes, com visuais e narrativas únicas?
Seria interessantíssimo e maravilhoso de se estudar.
Só o tempo dirá.