Os governantes andam intolerantes com as minorias. Em São Paulo a tentativa de se acabar com a cracolândia, antes de ter um projeto eficaz de atendimento aos viciados, mostrou-se uma decisão estúpida. Em Americana uma lei proíbe a presença de pedintes, artistas nômades, vendedores de quinquilharias e outros miseráveis nos semáforos da cidade. E mesmo que se pregue a teoria que será feito um acompanhamento social de casos, não dá para acreditar nisso. A cidade anda carente de ???coisinhas??? mais básicas e elementares. Não parece estar pronta para absorver este amplo, complexo e demorado trabalho.
O problema dos pedintes e outros convivas nos semáforos é nacional. Advém de governos que historicamente não olharam (e continuam não olhando) para as ruas. A solução do caso, antes de passar pelos municípios (existem alguns projetos pontuais) necessita de um trabalho de base na educação, na saúde, na segurança e na geração de emprego e renda. E isso não há. Nem em tempos mais longínquos, quando a política nacional ocupava menos as páginas policiais, se viu algo de duradouro e sério ser elaborado para corrigir as distorções sociais. Agora então…!?? por estas e outras que sou daqueles que dão moedinha, compram balinhas vagabundas e panos de prato de fiação paupérrima. Não tenho certeza (apenas desconfio) do que farão com as moedas ou os poucos trocados pagos pelas quinquilharias. Mas tenho certeza que não é a minha atitude que os estraga, corrompe ou mantém no meio do asfalto, com sol ou chuva, frio ou calor, pedindo por restos.A grande conquista neoliberal foi tornar o ser humano cada vez mais individualista. Me parece que está na hora de, independente da ideologia, entendermos as mínimas necessidades do ser humano e fazer algo para minimizar seu sofrimento. Acredito que enquanto não tivermos programas de governo para, verdadeiramente, encaminharmos a solução destas mazelas, os miseráveis vão continuar precisando dos semáforos.
Luciano Domiciano é jornalista