(Reuters) – Cuba anunciou nesta quarta-feira que vai se retirar do programa Mais Médicos, que durante cinco anos tem enviado especialistas de saúde da ilha ao Brasil, depois que o presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou que iria modificar os termos de colaboração da iniciativa e estabeleceu condições ao governo cubano.
Bolsonaro comparou a atuação dos médicos cubanos no programa Mais Médicos a trabalho escravo e garantiu que, quando assumir o governo, ???o cubano que quiser pedir asilo aqui vai ter???.
???Eu jamais faria um acordo com Cuba nesses termos. Isso é trabalho escravo, não é nem análogo à escravidão, é trabalho escravo, não poderia compactuar com isso daí???, disse Bolsonaro em entrevista coletiva em Brasília.
O presidente eleito também questionou a capacidade dos médicos cubanos, afirmando aos jornalistas ???duvidar??? que alguém quisesse ser atendido por um dos profissionais de saúde da ilha e afirmando ter relatos de ???barbaridades??? cometidos por médicos cubanos no país.
A televisão estatal cubana informou, ao ler comunicado do Ministério de Saúde de Cuba, que Bolsonaro, ???com referências diretas, depreciativas e ameaçadoras à presença de nossos médicos, tem declarado e reiterado que modificará os termos e condições do programa Mais Médicos, com desrespeito à Organização Pan-Americana da Saúde e ao que foi acordado por esta com Cuba???.
Logo após o anúncio de Havana, Bolsonaro foi ao Twitter para afirmar que o governo cubano não aceitou as condições de seu governo para a manutenção da ilha no Mais Médicos, entre elas o pagamento integral dos salários aos profissionais cubanos que atuam no país.
De acordo com o presidente eleito, a maior parte dos vencimentos tem como destino a ???ditadura??? da ilha caribenha, e a decisão cubana de abandonar o Mais Médicos não leva em conta os impactos na saúde dos brasileiros e na integridade dos médicos cubanos.
???Condicionamos à continuidade do programa Mais Médicos a aplicação de teste de capacidade, salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias. Infelizmente, Cuba não aceitou???, escreveu Bolsonaro na rede social.
???Além de explorar seus cidadãos ao não pagar integralmente os salários dos profissionais, a ditadura cubana demonstra grande irresponsabilidade ao desconsiderar os impactos negativos na vida e na saúde dos brasileiros e na integridade dos cubanos???, acrescentou.
Cuba participa desde agosto de 2013 do Mais Médicos, programa criado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff com o objetivo de ampliar o atendimento médico no país a cidadãos de baixa renda.
O Ministério da Saúde cubano disse que comunicou sua decisão à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e aos políticos brasileiros que ???fundaram e defenderam essa iniciativa???.