“Respire o instante de uma linha” é uma história que, a partir da linguagem poética, fala de amor, de descoberta e de travessia, em um tom que pede pausa e sensibilidade às miudezas da linguagem, dos afetos e do cotidiano. Publicado de maneira independente em 2021, o livro se encontra em sua segunda edição e está sendo distribuído pela Marisco Edições (@mariscoedicoes).
O livro tem prefácio assinado por Lorena Portela, jornalista e autora do sucesso independente “Primeiro tive que morrer”, e texto de orelha da editora Raquel Lima. “Respire o instante de uma linha” se constrói falando de afetos, usando referências musicais como David Bowie e Caetano Veloso e enumerando sabores e sensações a partir de comidas e temperos, como pão, café, mousse de manjericão e alecrim.
O ar que circula na escrita de Ana Paula é uma lufada de vida, um pedido de pausa para respirar. Em ambos paratextos, destaca-se a importância da respiração e seu ritmo na construção das sensações que esse romance é capaz de fazer o leitor vivenciar. Enquanto Lorena lembra da respiração como um ato natural que pode ser exercitado em meio a uma história bonita escrita de um jeito bonito, Raquel afirma que “ao escrever metáforas de tantos sentimentos, a autora invoca a respiração, a circulação deste ar precioso, também dentro de quem lê”.
E Lorena ainda vai mais longe ao falar em suspiros e numa escrita de sentidos para falar da proposta literária de Ana Paula: “No passar das palavras, das frases, das páginas, o que você vai encontrar é uma dose de poesia usada sem racionamento. Para que seja uma leitura de suspiros. Para que tu abra a janela da cozinha, ou sente no banquinho da tua varanda, ou balance a rede no teu quarto com a certeza de que “vamos existindo, assim, no meio das letras.”
“Respire o instante de uma linha” é sobre rupturas e nascimentos. E para a autora isso tem tudo a ver com amor. “O encanto de apaixonar-se e a consequência inevitável: um salto nas entranhas da própria vida, um desfazer-se e refazer-se na própria carne”, define. “Essa é uma história como todas as histórias que existem no mundo: ela come pedaços da minha própria vida e teima em saltar para fora do peito em busca de ar, em busca daquilo que ela foi fora, primeiro, antes de ser em mim.”
Andando junto de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Aline Bei e Ana Martins Marques
Doutora em Psicologia, Ana Paula já lecionou no Curso de Pedagogia da UMC e no Curso de Psicologia da Unesp-Assis. Atualmente é professora no curso de pós-graduação em Psicologia Escolar na PUC de Campinas e trabalha como psicóloga clínica.
Antes de “Respire o instante de uma linha”, a autora publicou dois livros infantis. A escrita é algo presente desde quando ela era criança. “A infância é quase sempre esse território inicial, eu costumo dizer que via as coisas por escrito, um cheiro, uma forma, um gesto, eu queria montar um relicário das coisas, porque existindo elas passavam muito rápidas por mim.”
E, de certa forma, esse desejo por esse tipo de experimentação e registro continua presente, já que para Ana Paula sua escrita é sobre buscar uma poética que não alcança: “É uma prosa que me desobedece e cumpre os desejos de um tempo revolucionário, nunca cronológico”.
Tendo como suas principais referências literárias nomes como Clarice Lispector, Matilde Campilho, Aline Bei e Ana Martins Marques, Ana Paula parece buscar também como leitora uma escrita que se volta para caminhos sensoriais. E isso se reflete também nas influências para a escrita da obra. Além dos nomes já citados, a autora ressalta a importância de alguns títulos, como “Avós” da Doris Lessing, “Primeiras estórias” do Guimarães Rosa e do “Isso” de Juan Gelman.
Seu desejo de escrever tem a ver com o de estar viva, como esse livro parece evocar, por isso Ana Paula cita Rilke ao falar de seu processo criativo e Matilde Campilho ao falar sobre organização e edição de notas, ideias e fragmentos: “Amarro a ideias antigas e quando noto uma flecha, como queria Matilde, entre uma coisa e outra, entendo a chegada de um livro”. Seu próximo livro tem se desenhado como um projeto inusitado. Dessa vez, ela alega estar menos interessada na flecha e mais no vento, esse que fica quando as flechas passam.
“Aliás, outro dia, vi deus escorrendo do mel da flor de laranjeira. E ele, minha gente, é o contrário do medo. Corre cotia, acende lamparina com o resto de certeza e inaugura ano novo toda quarta-feira.”