Disse Humberto Eco, uma das mais brilhantes cabeças do séc. XX, que ???As redes sociais dão o direito de falar a uma legião de idiotas que antes só falavam em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a humanidade. Então, eram rapidamente silenciados, mas, agora, têm o mesmo direito de falar que um prêmio Nobel. ?? a invasão dos imbecis”. A reflexão é inegável mas, incorreu em um erro que o colocou na vala comum dos intolerantes. As redes sociais são, inegavelmente, o mais relevante fato na informação desde Gutemberg. Além de dar voz a quem só era consumidor de informação, elas vêm abalando o establishment. O impeachment de Dilma Rousseff, por exemplo, teve influência decisiva das mega manifestações convocadas pelas mídias sociais, apesar da indiferença dos grandes grupos de comunicação.  Eco errou ao parecer insinuar que só pessoas com o nível de informação e reflexão, como ele, deveriam ter voz! Essa visão pouco se diferencia do modo de pensar de Beria, Goering, Felinto Muller, Erasmo Dias e McCarthy, embora, ressalve-se seu caráter muito diferente dessa gente. A tolerância com o ponto de vista alheio, gostemos ou não, é o principal pilar de uma democracia. O resto é ???controle social da mídia???… Ao mesmo tempo que ditaduras caem ou balançam, o pensamento extremado e intolerante de parte da sociedade está sendo exposto. A impaciência com a democracia (que não é perfeita e nem milagrosa!) tem levado muita gente a acreditar que soluções extremadas pode nos levar do inferno ao céu, sem o pedágio do purgatório. Esquecem que o welfare state do norte europeu, do Canadá e das longínquas Austrália e Nova Zelândia não são frutos de governos intolerantes e sim de longos períodos de governos democráticos, alternância de poder e sem ???Salvadores da Pátria???. Assim como o atual dinamismo e distribuição de renda da Coreia do Sul e o American way of life, eles viveram longos períodos de conflitos, erros e acertos! Há de se levar em conta que à toda ação temos uma reação! Nem todas as pessoas têm o nível de tolerância moral que nós temos (???nós??? que nos julgamos culturalmente superiores!)! Se achamos que uma obra de arte não deve ser motivo de qualquer tipo de censura, não podemos censurar quem não aceita que uma criança toque no corpo nu de um homem ???por ser uma manifestação artística???. Ser conservador ou ser um liberal nos costumes são direitos indiscutíveis. Achar que a nossa visão é a correta, e que tudo que é diferente disso é errado, é se igualar a Hitler e Stalin! O que Eco chama de ???imbecis??? são pessoas que se sentem mais seguras no guarda-chuva do conservadorismo do que na ???incerteza??? do neoliberalismo moral. Quanto à questão dos filósofos de botequim, eles não se atêm às redes sociais, mas são capazes de dominar todo um sábado de dezenas de milhões de brasileiros através da grande mídia nacional. E são nas redes sociais que acontece o debate. Nem Mino Carta, nem Marco Antonio Villa têm a exclusividade do veredito. Há anos tenho me utilizado das redes sociais, assim como da imprensa tradicional para expor meus pontos de vista, até pela agilidade do alcance delas, mas acho que assim como o rádio não acabou com o jornal impresso e a televisão não acabou com rádio, todos esses meios de comunicação continuarão convivendo e disputando públicos. Sou, muitas vezes, cobrado por que só posto e opino contra um segmento ideológico, digo que meu foco é (e continuará sendo!) a visão tosca e simplista dos extremistas. Mas, prometo total isenção assim que palmeirenses e corintianos tiveram uma posição isenta sobre o pênalti de domingo passado…
Orestes Camargo Neves