Cinco anos e meio após a excomunhão pela Igreja Católica, Roberto Francisco Daniel ainda é conhecido como Padre Beto, celebra missas na igreja sem doutrinas que fundou a Humanidade Livre, e é convidado para realizar casamentos alternativos em todo o país.

DA ASSESSORIA

Apesar disso, o sacerdote de Bauru (SP) sente diariamente as conseqüências da punição drástica que sofreu por causa de seus posicionamentos libertários e questionadores. O excomungado briga na Justiça para tentar reverter à medida e lida com decepção por ter sido excluído de uma comunidade religiosa que freqüentava desde a infância, ao lado dos pais, católicos dedicados.

Os bastidores da excomunhão e a trajetória do padre rebelde são contados no livro de memórias “Padre Beto – A História do Excomungado no Século 21”, escrito pela jornalista Cristina Camargo e lançado pela Coleção Bíos da Chiado Books.

Nessa trajetória estão incluídos episódios em que o padre testemunhou intrigas e disputas, superou melindres causados pelo destaque que conquistou na igreja e acompanhou o caso de um ex-seminarista que abandonou a vida religiosa após um caso de assédio sexual não punido.

“Ele revela alguns episódios espinhosos do catolicismo”, diz a autora do livro de memórias. “Conta também como foi complicado encontrar no Brasil uma igreja conservadora e rancorosa, após os dez anos de estudos na Alemanha”.

A igreja que inspirou Padre Beto na juventude era progressista e voltada para a atuação social. Após os anos de especialização na Universidade Estadual da Baviera Ludwig-Maximilian, em Munique, ele voltou com a intenção de contribuir para a modernização do catolicismo, mas enfrentou inúmeras barreiras até ser expulso sem direito a defesa.

O caso ganhou repercussão internacional e levou Padre Beto a transformar-se em uma personalidade midiática. Ele virou manchete em jornais e portais, deu entrevistas a vários programas de TV e foi convidado por partidos políticos a disputar eleições.

Cristina Camargo cobriu o caso para o jornal Folha de S.Paulo na época e, depois, continuou acompanhando a vida do padre. Antes da punição, ela já havia feito outras matérias sobre o religioso para os jornais em que trabalhou em Bauru.

Conta que Padre Beto sempre chamou a atenção por sua postura questionadora e estilo diferente dos religiosos tradicionais. Chegou a Bauru, vindo da Alemanha, usando piercing, anéis, camisetas com a estampa de Che Guevara e dono de um discurso ácido contra o tradicionalismo. Além disso, nunca escondeu o prazer de sentar em um bar e beber ao lado de amigos ou sozinho, o que espantava os mais conservadores.

“Com a excomunhão, essa personalidade que já chamava a atenção em Bauru ganhou repercussão em todo o país e também fora do Brasil. De um dia para o outro, ele ficou famoso, conquistou fãs, mas também virou alvo de muitos ataques”, ela recorda.

A jornalista considerou interessante contar a história completa de Beto por meio do livro de memórias. Os 12 capítulos foram escritos após longas rodadas de entrevistas com o religioso e pesquisas.

“Muita gente não sabe, por exemplo, sobre o investimento que a Igreja Católica fez na formação européia de Padre Beto quando ele era um jovem e promissor líder religioso”, ela afirma.

 Para Padre Beto, é importante contar em detalhes sua história para que as pessoas entendam que não importam os obstáculos encontrados na vida.

“Somos capazes sempre de ir além de nossos limites. ?? importante entender que a liberdade é fundamental para o ser humano”, ele diz.

 O livro está disponível para compra no site da editora, no seguinte

link: https://www.chiadobooks.com/livraria/padre-beto-a-historia-do-excomungado-no-seculo-21.

Também será vendido na sede da Humanidade Livre – Rua Henrique Savi, 2- 61 – Vila Nova Cidade Universitária, Bauru, e pode ser encomendado nas principais livrarias.