Um vídeo da influenciadora Carol Sweet simulando o “parto” de uma boneca reborn viralizou nas redes sociais na última semana. A cena, que mostra a youtuber retirando o boneco de uma caixa decorada como se fosse um útero, dividiu opiniões e reacendeu discussões sobre saúde mental, luto, maternidade e a maneira como temas íntimos e delicados são tratados na cultura digital.
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As chamadas bonecas reborn são réplicas hiper-realistas de recém-nascidos. Embora sejam vendidas como itens de coleção, elas também têm sido utilizadas em contextos terapêuticos específicos — como nos casos de perdas gestacionais, traumas e elaboração do luto.
Vídeo do ‘parto’
Segundo a psicóloga Laís Mutuberria, especialista em Neurociência do Comportamento, o uso dessas bonecas pode ser válido em algumas abordagens clínicas, desde que inserido em uma metodologia estruturada e mediado por profissionais qualificados.
— Nessas situações, a boneca não é o fim em si, mas um recurso simbólico dentro de um processo terapêutico seguro, baseado em vínculo e escuta — explica a psicóloga.
Fora do ambiente clínico, no entanto, o uso indiscriminado de objetos como o bebê reborn pode gerar efeitos opostos ao desejado, alerta Mutuberria. A ausência de mediação profissional pode transformar a experiência simbólica em uma forma de fetichização ou de exploração comercial da dor.
— Objetos não são, por si, terapêuticos. A potência está no processo construído entre terapeuta e paciente — afirma.
O tema ganhou ainda mais visibilidade com declarações públicas de celebridades. Hoje (07/05), a musa fitness e ex-BBB Gracyanne Barbosa, 41, comparilhou seu sonho de ser mãe e falou sobre o significado afetivo de sua boneca reborn. “Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade”, escreveu a influenciadora.
Para a psicóloga, embora haja um aspecto legítimo na elaboração de desejos ou afetos por meio de objetos simbólicos, é preciso cautela com o modo como essas experiências são expostas e consumidas nas redes sociais.
— O que vemos é uma tendência crescente de transformar processos humanos profundos, como o luto, o amor ou o nascimento, em conteúdos rápidos, higienizados e performáticos — diz Mutuberria.
Ela também critica a romantização do parto nas redes, como no caso do vídeo de Carol Sweet.
— O parto real é atravessado por dor, sangue, medo e entrega. Reduzir esse evento a uma cena limpa e “instagramável” esvazia sua potência simbólica e corporal — afirma.
Para Mutuberria, o episódio ilustra um fenômeno maior: a forma como a lógica da rapidez e do consumo vem afetando a maneira como lidamos com a complexidade da vida emocional.
— A comida chega em minutos, o amor depende de um “match”, a felicidade precisa caber em um story filtrado. O luto, o amor e o nascimento são experiências fundamentais, e não podem ser tratados com a lógica do fast food, afirma.
Sobre Laís Mutuberria
A psicóloga Laís Mutuberria possui mais de uma década de experiência em psicoterapia clínica e supervisão profissional, atendendo adultos e adolescentes no modelo online. Graduada pela UFU, especializou-se em Análise Transacional (Unat Brasil) e Neurociência do Comportamento (PUCRS), além de acumular formações em Psicologia Positiva, Hipnose Ericksoniana, PNL, TCC e Educação Sistêmica. Sua abordagem integrativa e humanizada combina diferentes técnicas para adaptar os tratamentos às necessidades individuais de cada paciente. Além da prática clínica, ministra cursos, palestras e eventos voltados ao bem-estar e à saúde mental.
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