O quadro ‘Tiradentes esquartejado’ (1893), de Pedro Américo (1843???1905), sempre me impressionou. Muito além daquela imagem evocar Jesus Cristo na cruz, encontrava lá o esfacelamento de um corpo e de uma alma perante um regime autoritário. A imagem do líder derrotado no seu presente, mas imortal na História me fascinava.
Os anos passaram e conheci a instalação ‘Reflexos de sonhos no sonho de outro espelho (Estudo sobre o Tiradentes de Pedro Américo)’, de 1998, de Adriana Varejão. Foi possível ver as duas obras na Bienal de Arte de São Paulo daquele ano e, confesso, o pensamento estético da artista carioca ainda me era uma incógnita.
Neste dia 21 de abril, olho para os trabalhos com um interesse renovado. De um lado, uma tradição de pintura com elementos românticos e realistas. Do outro, uma estética baseada na fragmentação, que reunia 21 pinturas a óleo de diferentes tamanhos e formatos. O curioso está em verificar como as obras se integram.
O mito Tiradentes de Américo encontra no trabalho de Adriana um complemento. A dor do esfacelamento por ele mostrada ganha com a visão fragmentada dela. O épico individuo trucidado é redimensionado por uma artista que esfacela a existência humana e a devolve ao observador com poéticas interrogações. Pode-se querer mais num Feriado?
Oscar D’Ambrosio, Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.