Com dezenas de composições de sua autoria, Moacir Carlos Romero, 66 anos, ex-vereador de Americana, se prepara para a concretização de um sonho, o lançamento do álbum do primeiro CD com músicas sertanejas inéditas. Os encantos sonoros da viola, a letra e a intepretação musical, conquistaram o coração desse interiorano de Boracéia há muito tempo. O gosto pela música, em especial a sertaneja de raiz, vem desde a infância, da vivência ambientada no meio rural, onde ouvia duplas sertanejas em circos na sua cidade, em programas de rádio, ou quando acompanhava os violeiros amadores da região.

“Não tínhamos televisão, e o rádio, os circos e o cinema eram os únicos espaços de diversão e cultura”, relembra o compositor, cantor e poeta, sem esconder a ansiedade pela espera da gravação e prensagem de 1.000 cópias do CD. O show de lançamento, que terá a participação especial de uma dupla de cantores de música sertaneja raiz, está previsto para  este ano, no Teatro Municipal “Lulu Benencase”, em Americana. Com entrada gratuita ao público, o show segue a temática do projeto, com contação de histórias intercaladas com canções de autoria do compositor.
O sonho antigo de Romero se tornará realidade, graças ao projeto cultural recém-aprovado pelo Proac (Programa de Ação Cultural). Criado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, o Proac analisa todos os projetos culturais que buscam viabilizar o repasse de recursos do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) recolhido por empresas paulistas, conforme previsto em lei. A destinação está limitada ao percentual de 3% do imposto devido. Na expectativa de contar com o apoio de empresários, o responsável pelo projeto “Cantador de Histórias” (também é o título do CD) diz que o objetivo é realizar “um trabalho que consiga, acima de tudo, passar uma mensagem positiva, resgatando aspectos da vida na roça a quem se interessar em ouvir e conhecer o meu trabalho de compositor”.

Partícipe da vida política de Americana desde que escolheu esta cidade para morar e trabalhar, o ex-vereador Moacir Romero mantém sua origem simples, fonte de inspiração de suas composições. “Sempre gostei de escrever e fiz inúmeros versinhos, mas que acabaram se perdendo com o tempo. Poderia dizer que a primeira música é um ‘sambinha’ chamado ‘Voltei’. Comecei a escrever na década de 70, e terminei em 2009. Nesse ano, comecei a me dedicar a novas composições, e hoje, entre músicas e poesias, tenho cerca de 130 escritas. Não tenho hora para compor, já estacionei o carro várias vezes para escrever trechos de música que depois terminei. Já acordei de madrugada com um tema e escrevi. Raramente sento e digo, ‘vou escrever algo’; sempre vem a inspiração, algo que surge na mente, e então, vou desenvolver. Gosto mais de compor de uma só vez, começar e terminar.”

As suas letras sempre remetem à vida simples no campo, onde são cantadas e contadas histórias relacionadas a carros-de-bois, casas de colônias, capelas à beira da estrada, boiadas, religiosidade, dentre outras narrativas, sempre buscando resgatar a simplicidade de temas atualmente esquecidos pela indústria fonográfica. Mas, diz que não tem uma música preferida. “Difícil falar sobre uma música preferida. Algumas tocam mais profundamente pelo tema, como, por exemplo, ‘Lembranças do Meu Pai’, ‘Sinos da Capela’, ‘Sonhos de Berrante’, ‘Cantiga Pra Minha Mãe’ e ‘Peregrino de Rodeio’.”

No entanto, Romero não esconde sua admiração por determinados artistas nacionais do gênero. “Gosto de todo tipo de música que transmita uma mensagem. João Pacífico, Raul Torres, José Fortuna, Goiá, são compositores que eu destaco, embora existam muitos outros no meio caipira que mereçam ser lembrados. Como intérpretes, Nenete e Dorinho, Zé Fortuna e Pitangueira, Biá e Dino Franco, Belmonte e Amaraí, Cascatinha e Inhana, se destacam na minha preferência, mas existe muita gente boa, e fica complicado nomear.”

Ainda falando em recordações, o compositor volta o pensamento a simpática Boracéia, na região de Jaú, onde admirava as cantorias de Leôncio e Leonel,  dupla caipira famosa na época, natural de Bariri, cidade vizinha a sua. “Eles sempre se apresentavam na cidade, como tantos outros artistas da capital que faziam sucesso na época”, testemunha.

Com toda a bagagem artística acumulada servindo de inspiração, Romero vislumbra, agora, a oportunidade de resgatar com o CD, os temas ligados à vida no campo com um repertório de músicas genuinamente brasileiras, arranjos originais e variado conjunto de instrumentos acústicos ??? vozes, violões, violas, contrabaixo acústico, sanfona e percussão.

O menino que gostava de ouvir música caipira na antiga Rádio Nacional, e buscava inspiração nos cantores sertanejos da época, agora torna-se o protagonista de sua própria arte.