O roubo ou desaparecimento de obras de arte durante o nazismo é um tema polêmico e sobre o qual ainda há muito a discutir. Um filme que traz a questão à tona é a ‘A dama dourada’, dirigido por Simon Curtis. A questão comporta ainda outra, ainda mais complexa: uma obra com relevância universal pela qualidade estética ou valor histórico pertence a uma família, a uma instituição privada, a um órgão governamental ou a um país?
O filme tem como base a história real narrada no livro ‘A Dama Dourada – A extraordinária história da obra-prima de Gustav Klimt’, da jornalista Anne-Marie O’Connor, publicado no Brasil pela editora José Olympio. O eixo central é a busca da octagenária Maria Altmann para receber de volta o quadro que retrata a sua tia.
A principal pintura em questão, entre outras demandadas por Maria, é o ‘Retrato de Adele Bloch-Bauer’, que foi roubado de sua família judia, na Áustria, pelos nazistas em 1938. O seu sobrinho-neto é o jovem advogado que vai buscar fundamentar a empreitada. A jornada envolve desde altas autoridades europeias até um mergulho no próprio passado de uma família que conviveu com a violência e a intolerância do autoritarismo alemão.
O fascinante em todo o processo judicial é como a protagonista, que se refugiara em Los Angeles, EUA, para fugir do Holocausto, necessita rever sua jornada e a da família para processar a Áustria enquanto país. Assim, o quadro torna-se uma espécie de ícone da ambiguidade nazista com a arte, pois alguns dos principais quadros da humanidade do período, embora não estivessem de acordo com a ideologia do Reich, foram escondidos por líderes alemães em suas coleções particulares e não destruídos como ditava o regime.
O filme indica que ainda há muito a desvendar nesse tema de obras roubadas ou simplesmente ‘desaparecidas’. Uma produção essencial sobre o assunto é ‘The Rape of Europe’, de 2007, de Bonni Cohen, Richard Berge e Nicole Newnham, que retrata como os nazistas usurparam ou destruíram obras de arte da Europa durante a Segunda Guerra. Ao mostrar como historiadores e curadores tentam recuperar essas obras, esse documentário funciona como uma ótima introdução ao filme de Curtis, que tem na atuação de Helen Mirren, como Maria Altmann um de seu ponto s altos.
Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.