Nas primeiras décadas do século XX as usinas açucareiras estavam em pleno vapor. Eram prósperas e com a promessa de um futuro longevo e de muito sucesso, já que o açúcar e o álcool, seus principais produtos, estavam em alta no mercado e a demanda era crescente.

A região de Piracicaba se tornou abrigo de diversas usinas e a cidade de Santa Bárbara d???Oeste ganhou rapidamente várias delas, tais como a Usina Santa Bárbara, a Usina Furlan, a Usina Galvão e a Usina Cillo. 
No entorno das usinas surgiram às comunidades formadas por seus empregados, as famosas ???colônias dos trabalhadores???, com suas casas simples, humildes, mas cheias de filhos, que tinham muito espaço para brincarem. 
Nas usinas havia igrejas, escolas, armazéns, campos de futebol, festas e muita movimentação. ?? bem provável que se você possui mais de cinquenta anos se lembre muito bem como era a vida nas usinas, como eram fortes os seus times de futebol, como os católicos eram fervorosos e como havia amizade.
As infâncias nas usinas ao serem recordadas pelos adultos quase idosos ou já idosos são douradas, pois havia liberdade e muita criatividade para se construir a fantasia e para a imaginação voar, principalmente pelos trens que iam e viam e quase sempre passavam perto das usinas, sendo que em algumas havia até mesmo estação ferroviária.
O tempo passou, as usinas foram perecendo, a economia foi alterada e a comunidade passou a preferir os centros urbanos. As usinas foram fechando e as que ainda existem tiveram que se adequar aos tempos modernos, pois os patrões se adequaram as exigências do capitalismo.
Atualmente em nossa cidade as usina Galvão, Cillo e Santa Bárbara estão desativadas e os seus barracões guardam apenas uma sombra do que outrora foram. Na Usina Galvão ainda há uma bela lagoa. Na Usina Cillo há empresas de outro ramo funcionando e na Santa Bárbara, a parte principal onde ficavam as moendas, é hoje um patrimônio histórico tombado, cujas características não podem ser alteradas.
No entanto, a Usina Furlan ainda está ativa, mas suas colônias sofreram as adaptações necessárias pela passagem do tempo e a empresa está na transição de familiar para profissional. Há seriedade no trabalho, mas o asfalto cobriu na sua grande maioria as ruas de terra, a escola fechou e as missas não são mais tão frequentes.
As usinas açucareiras em geral ainda existem e por muito tempo suprirão os mercados, mas as usinas barbarenses guardam uma época histórica e os seus canaviais ainda encerram histórias de crenças e de esperança. Que haja sempre na sociedade vontade de recordar sem nostalgia de uma época onde a tecnologia era a habilidade de conversar, de brincar, de dormir cedo e de sonhar com os domingos, quando havia de vez em quando uma garrafa de guaraná para fazer a alegria de todos. 
Enfim, desejo que Deus abençoe os patrões e os empregados das usinas do passado, do presente e do futuro. Mas aos patrões e os empregados das usinas do passado deixamos o nosso reconhecimento, pois as cidades possuem uma dívida de gratidão pelo progresso que possibilitaram, pelas riquezas que geraram e pelo legado que deixaram nas famílias, no coração e nas almas daqueles que sorriram e choraram ao som de caminhões que iam e vinham, dos apitos característicos e diante da visão das fumaças que as chaminés entregavam aos céus, como se avisassem que estavam produzindo muito mais do que açúcar e álcool, produziam saudades.   

Eliel Miranda, colaborador do jornal