Relacionamentos humanos são muito complexos em qualquer situação. Há neles sempre um local de mistério, mal resolvido, uma espécie de região escura em que os sentimentos não são claramente discutidos nem compreendidos. ?? nessa esfera que o filme sul-coreano “Você e os outros” se realiza.

O diretor Hong Sang-Soo demonstra grande habilidade ao contar a história de um artista plástico que, ao ouvir boatos sobre o fato de a namorada beber demais, acaba se desentendendo com ela. Ao tentar recuperá-la entra num jogo estranho, pois a moça, interpretada com delicada e sutil sensualidade por You-young Lee, vive uma espécie de looping, em que todo encontro com alguém parece ser o primeiro.
O processo apresenta diversas portas de interpretação, que incluem o simples fingimento, a possibilidade de ela ter uma irmã gêmea idêntica ou ainda a existência de algum tipo de distúrbio psicológico ou psiquiátrico que leva a esse comportamento. O mais curioso ainda está, após uma intensa exposição de conflitos, no final, de certo modo surpreendente, que apresenta um peculiar estágio harmônico.
O enredo repete situações e vai crescendo em dramaticidade no momento em que se evidencia a solidão do protagonista e a sua dependência da mulher que ama. Esta, por sua vez, se apresenta com tamanha frivolidade em cada um de seus diálogos, que é difícil definir qual sentimento nutrir por ela. Nessa construção, o filme fascina e nos interroga a cada instante.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.