Saúde e cultura tem tudo a ver com alimentação. E é isso que a Feira Nacional da Reforma Agrária ??? que  oferece uma variedade de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, produzidos pelos acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores sem Terra – traz aos paulistanos em suas edições. A última, aconteceu neste final de semana no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo. 
Com 1.215 feirantes, 1.530 produtos a serem comercializados e 75 tipos de pratos típicos de todas as regiões do país, a feira recebeu a visita de cerca de 260 mil pessoas, onde foram comercializadas 420 toneladas de alimentos. Como é importante a realização de um evento desta dimensão na maior cidade do nosso país, levando a importância da inclusão dos produtos orgânicos na nossa alimentação diária. Além disso, saúde e alimentação caminham juntas, seja na inclusão de produtos orgânicos, no impacto do uso de agrotóxicos ou no incentivo a agricultura familiar. Há necessidade da criação de políticas de saúde que incentivem a promoção à saúde, como o Guia Alimentar para a População Brasileira da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que elaboramos quando era Ministro da Saúde da presidenta Dilma. Participei na feira do seminário ???Saúde Universal com Democracia: Agora Mais do que Nunca???, junto com a vereadora da capital, Juliana Cardoso, e com profissionais da Rede de Médicos e Médicas Populares ??? profissionais de saúde que valorizam e defendem o SUS ??? e debatemos a importância de um sistema gratuito e universal de saúde, que prioriza a vida e não os estímulos do mercado financeiro. A indústria da alimentação faz esforço para que a tradição da produção e cozimento dos alimentos seja eliminada, com o sonho de que os alimentos consumidos no mundo sejam os mesmos, patronizando o paladar, produzindo o mesmo alimento para muitas pessoas no mundo e lucrando muito com isso.Por isso que a ideia da feira da Reforma Agrária é muito importante, para que nossa cultura da alimentação saudável não seja interrompida, para que o ato de cozinhar continue sendo tradição e que o preconceito no movimento pela reforma agrária seja extinto. Além disso, ela nos traz a reflexão: como defender uma alimentação saudável se o modelo agrícola é o do latifúndio, com uso excessivo de agrotóxicos, com a destruição do modelo de agricultura familiar? A alimentação saudável está diretamente relacionada ao modelo agrícola e é possível fazer diferente.Um exemplo importante foi a priorização da segurança alimentar e nutricional na merenda que era oferecida nas escolas municipais na gestão do prefeito Fernando Haddad aqui na capital, onde foram introduzidos alimentos orgânicos produzidos pela agricultura familiar de uma cooperativa da região de Parelheiros, periferia no extremo sul da cidade.Quando o então prefeito de São Paulo João Doria quis implantar a distribuição da farinata ??? a ???ração humana??? ??? na merenda das escolas ficou claro a quem ele queria beneficiar. Medidas como essa fazem com que as indústrias de alimentos continuem homogeneizando os produtos e lucrando muito. 
Elas sim devem ser criminalizadas, e não os assentamentos. Estou acompanhando uma ocupação recente do Movimento na cidade de Valinhos, região de Campinas, onde ocuparam uma fazenda em que o dono havia pegado dinheiro do BNDES, nunca devolveu e deixou a área totalmente improdutiva. Mais de 60 famílias necessitavam de terra para produzir e a justiça negou a reintegração de posse. Uma vitória para o movimento e para a reforma agrária. 
Precisamos ter a consciência de que uma saúde de qualidade começa na prevenção, mas também tem tudo a ver com a nossa alimentação. Comer é um ato político, você é o que come. 

Alexandre Padilha é médico infectologista, criador do Mais Médicos, foi ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma, secretário de saúde na gestão Fernando Haddad e é vice-presidente nacional do PT.