Embora esteja em sua quarta filmagem, ‘Nasce uma Estrela’, agora dirigida e protagonizada por Bradley Cooper, com Lady Gaga, no papel-título, não é mais do mesmo. Talvez porque esta versão de 2018, em relação ás anteriores de 1937 (com Janet Gaynor); 1954 (Judy Garland); e 1977 (Barbra Streisand) seja, em alguns pontos, um retrato contundente de nossa época.
O relacionamento entre o cantor mais velho decadente e a jovem em ascensão meteórica traz como componente fundamental contemporâneo a expressão da verdade interior de cada artista e a maneira como isso é levado para a esfera pública. A indústria fonográfica, por exemplo, é questionada como aquela que constrói e destrói talentos por julgar que sabe aquilo que o a ‘massa’ gostaria de ver e de ouvir.
A questão maior não é tanto a atingir o estrelato, mas sim permanecer no local de destaque. Para isso, torna-se necessário vencer a pasteurização. E o desafio não é nada simples. Uma cor de cabelo imposta ou uma coreografia de dança surgida sem maiores contextos ou explicações isoladamente parecem representar pouco, mas começam a formar uma nova pessoa.
E o talento que nasce ingênuo e violento pode ser domesticado e transmutado em algo comum. Assim a perenidade de uma carreira pode ser jogada fora. Manter-se em destaque significa atingir esse equilíbrio entre o que se deseja dizer, o como dizer e para qual público. Estradas mais curtas, como fazer apenas o que os outros esperam contribuem para o ocaso das estrelas. E a rápida ascensão pode levar a um mergulho denso às trevas em pouco tempo…
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.