Nos primeiros dias após o nascimento, milhões de bactérias fazem a sua casa no corpo do bebê – na pele, na boca e especialmente no intestino. Esses “imigrantes” vêm do canal do parto e das fezes da mãe (durante o parto vaginal), da pele e da boca da mãe, enquanto ela segura e acaricia o bebê e talvez até mesmo da placenta, embora essa fonte ainda seja debatida.
O microbioma colonizador pode ter um impacto de longo alcance na saúde do bebê. Estudos sugerem, por exemplo, que a população do microbioma de um bebê, nos primeiros dois anos de vida, pode prever um risco posterior de obesidade. As crianças nascidas por cesariana também são mais propensas a se tornarem obesas, ou desenvolver doenças autoimunes, como diabetes tipo 1 e asma.
Ultimamente, os cientistas identificaram outro importante contribuinte para o microbioma infantil. O leite materno está repleto de bactérias que colonizam o intestino da criança e podem ajudar a definir o rumo do desenvolvimento do sistema imunológico e do metabolismo do bebê.
“Mas o leite materno parece ser rico em bactérias benéficas somente quando vem diretamente do seio da mãe. Quando o mesmo leite é bombeado e oferecido mais tarde ao bebê, ele ainda carrega a maioria das outras riquezas do leite materno, mas nem todas”, explica o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.
Microbioma do leite materno
Cada vez mais, comprovamos a ideia de um microbioma do leite materno e sua importância. “?? bem sabido agora que os bebês nascidos por cesariana perdem muitas bactérias úteis. E o uso de antibióticos na mãe ou no bebê também pode destruir as nascentes populações bacterianas do bebê. A amamentação pode compensar esse processo até certo ponto”, explica o pediatra.
Essas transformações acontecem muito cedo na vida do bebê. O problema surge quando a mãe não pode amamentar e está introduzindo a fórmula, ou quando a mãe ou o bebê estão recebendo antibióticos.
Uma série recente de estudos lançou luz sobre um tipo particularmente benéfico de micróbio, chamado bifidobactéria. Um trabalho, publicado em 2012, mostrou que o microbioma evolui durante a gravidez. Com o tempo, torna-se semelhante a um estado que se assemelha à inflamação e à síndrome metabólica – uma condição associada a doenças cardíacas, derrame e diabetes tipo 2. Mas, no final da gravidez, as bifidobactérias são influenciadas pelo hormônio gestacional, progesterona, e proliferam em resposta, como se estivessem se preparando para a fase de amamentação.
“As bifidobactérias consomem açúcares especiais encontrados no leite materno, chamados oligossacarídeos do leite humano, que os bebês não conseguem digerir. Como resultado, essas bactérias são abundantes nos intestinos de bebês amamentados, mas não no de bebês alimentados com fórmulas infantis”, diz Moises Chencinski.
Sabemos que o leite materno contém oligossacarídeos do leite humano, mas a descoberta de que eles são importantes para o microbioma se desenvolver atraiu a atenção. As vacas produzem cerca de 40 oligossacarídeos diferentes e os seres humanos produzem mais de 100, embora o leite materno de cada mulher contenha um subconjunto desse número.
“O leite materno também contém uma mistura única de hormônios, anticorpos e bactérias – uma bebida que presumivelmente evoluiu para atender às necessidades do bebê. Esta é uma das coisas únicas sobre o leite humano que é realmente difícil de replicar”, informa o médico.
Os fabricantes de fórmulas conhecem a ciência do leite materno e se esforçam para imitar a substância o mais próximo possível. Mas no caso dos oligossacarídeos, algumas empresas estão adicionando um dos açúcares complexos, chamados 2FL, aos seus produtos (e estão testando muitos outros). No entanto, cerca de 20% das mulheres não produzem 2FL no leite materno. Se uma dessas mulheres der ao seu bebê uma fórmula que contém 2FL, o bebê recebe um açúcar que não teria recebido naturalmente.
Adicionar apenas um açúcar também pode não trazer muitos benefícios. Pesquisas sugerem que apenas cerca de 10 dos açúcares parecem ser particularmente importantes para a saúde do bebê – mas somente quando consumidos em combinação.
“O leite materno que é bombeado e oferecido por mamadeira é geralmente melhor do que a fórmula. Mas o leite materno bombeado pode não fornecer os benefícios dos açúcares, que são obtidos somente com o leite materno vindo diretamente da fonte”, afirma o pediatra.
Um estudo com 393 pares canadenses de mães e filhos descobriu que o leite materno bombeado parece ser mais rico em algumas bactérias nocivas, mas tem poucas bifidobactérias. Muitas variáveis ??????podem afetar a qualidade do leite materno bombeado, incluindo o tipo de bomba, como o leite é armazenado e a limpeza das mamadeiras e dos mamilos. O estudo sugere que o contato direto entre o seio da mãe e a boca do bebê é importante: quando um bebê suga o seio, alguns habitantes de seu microbioma oral podem voltar ao seio materno.
“Em outras palavras, os benefícios da amamentação podem derivar de uma miríade de fatores, incluindo os muitos microbiomas no corpo da mãe – no leite materno e na pele da mama – e na boca e no intestino do bebê. Isso não quer dizer seja que o leite humano bombeado é ruim. Existem outros fatores envolvidos”, diz o médico Moises Chencinski.
Cautela com antibióticos
Os médicos também devem ter cautela ao prescrever antibióticos para bebês ou para mães que amamentam. Há fortes evidências de que os antibióticos podem ter um poderoso efeito negativo no microbioma, mudando o equilíbrio para as bactérias nocivas.
Para algumas mulheres e bebês, renunciar aos antibióticos não é uma opção. Uma em cada quatro mulheres grávidas são infectadas com bactérias estreptocócicas do grupo B, e podem precisar de antibióticos intravenosos durante o trabalho de parto para diminuir o risco de infectar seus bebês.
“Essas mulheres são incentivadas a minimizar os efeitos sobre o microbioma por vários meios, incluindo parto vaginal, aleitamento materno exclusivo, contato abundante pele-a-pele com o bebê, e evitando dar banhos perfumados, que podem prejudicar o microbioma dos bebês. Essas medidas realmente promovem um bom crescimento de bactérias saudáveis ??????tanto na pele do bebê quanto no intestino”, diz Chencinski.
Aqui, novamente, a amamentação parece ser o melhor caminho. “Mas as mulheres que têm problemas para amamentar não devem se desesperar. Mesmo que não consigam completar seis meses de aleitamento materno exclusivo, se puderem amamentar parcialmente, ou se puderem fazer um mês ou uma semana, isso definitivamente é melhor do que nenhum aleitamento materno”, orienta o pediatra.