Na manhã desta segunda-feira (23), o governador do estado de São Paulo, João Doria, do PSDB, convocou uma coletiva de imprensa para, entre outros anúncios relacionados ao combate ao COVID-19, dizer que conseguiu juntamente a um grupo de mais de 100 empresários, pouco mais de R$ 90 milhões em doações para auxiliar na causa.
Esta iniciativa foi vista e comentada positivamente por alguns veículos da mídia tradicional logo em seguida ao anúncio. E, na verdade, foi uma medida assertiva. Porém, faz-se necessário, ainda mais num momento tão complexo e sensível, que a gente compreenda as motivações de cada iniciativa dos nossos governantes. Estamos vivendo uma grande oportunidade para entender como todo esse sistema funciona (ainda).
Se o governador consegue, em tão pouco tempo, conseguir reunir alguns de seus pares para proporcionar uma parceria entre o setor privado para custear uma demanda importantíssima para o poder público ??? o qual ele é o gestor -, por que não tem a mesma postura quando a situação não é de quarentena e calamidade? Antes estava tudo funcionando bem e sem necessidade deste tipo de iniciativa?
Recentemente, o próprio João Doria comemorou a aprovação da Reforma da Previdência estadual, retirando recursos públicos do custeamento de uma demanda mais do que justa de servidores públicos estaduais, de forma injustificada, porém, seguindo de acordo com seu viés ideológico privatista. Sendo assim, se há o dinheiro dos empresários para doar para o combate ao corona, por que não conduzir os trabalhos da mesma forma, requisitando estes aportes antes e sem o corona? Afinal, o dinheiro ???extra??? não surgiu do nada e só pelo surgimento do COVID-19! E, definitivamente, há uma lista enorme de demandas no setor público que parcerias público-privadas podem ser bem vindas, mas que não sejam transformadas em oportunidades para beneficiar os mais ricos e sucatear os bens públicos. Ações decentes dignas de um gestor público real.
No fim das contas, não faria sentido deixar seus filhos, por exemplo, aos cuidados de alguém que não leva jeito e odeia crianças. O resultado seria catastrófico! Então por que deixarmos o setor público com alguém que quer ver o estado mínimo? Com alguém que luta para que aquilo para que foi eleito acabe? Não faz o menor sentido!
?? justamente por isso que precisamos estar atentos e fortes. Com todo o medo e sensibilidade que o momento singular proporciona, com necessidade de tomada de medidas drásticas e união total pela valorização e defesa da vida, tomemos muito cuidado com quem hoje te estende a mão para lhe tirar do buraco, mas que até ontem lhe tirava o emprego, a merenda, a aposentadoria e te perseguia com o aparato militar, lhe chutando enquanto estava caído. Amanhã, quando isso passar, o que vem? Uma facada nas costas?
Aproveitemos o momento para estudar, entender quem somos, ao que pertencemos, o sistema que vivemos, quem samba de que lado, pois quem está contigo deve estar sempre e em qualquer circunstância. Com ou sem corona.