A direita moralista e a esquerda marxista-clássica mantêm relações ambíguas com a democracia representativa. Seus pares afagam o sistema democrático com uma mão e com outra tentam esfaqueá-lo.
A partir de 1945 a direita política se organizou em torno do partido UDN (União Democrática Nacional). As lideranças da UDN assumiram altos postos de comando na esfera federal e conquistaram vários governos estaduais. Franjas no jornalismo e militância ligada à igreja católica formavam a base social da direita civil.
A direita udenista temia o comunismo. Eram tempos de batalha mundial entre capitalismo e comunismo. A esquerda revolucionária se organizava pouco a pouco no campo e nos sindicatos. O governo João Goulart se aproximava de regimes comunistas e impulsionava as reformas de base. As elites conservadoras estavam assustadas e apoiaram o golpe militar porque entendiam que ele restabeleceria a ordem. O preço foi alto. Os tecnocratas positivistas do regime militar destruíram a direita civil. Fecharam a UDN. Acabaram com a carreira de intelectuais e políticos conservadores. Desprezaram a luta ideológica e focaram as atenções no desenvolvimento econômico do país.
O udenismo deixou milhares de herdeiros. As redes sociais aproximaram essa turma e atualmente eles tentam reorganizar a direita civil e partidária. Porém, o que se nota é que alguns deles sofrem dos mesmos males de seus antepassados: neura moralista e síndrome golpista. Diante da enxurrada de escândalos de corrupção que inundam as páginas dos jornais, os neoudenistas deixam entrever que desejam a reedição de 1964 como forma de recuperar a ordem moral e dar cabo da expansão estatal ??? embora tenha sido o regime militar o grande fiador do capitalismo de estado no Brasil, sobretudo no período Geisel.
A esquerda clássica morre de amores pela ditadura do ???proletariado??? ??? aquela em que a economia é estatizada e benesses sociais são distribuídas para os pobres. No Brasil, os representantes dessa esquerda estão amontoados nas universidades, periferia do PT, movimentos sociais e partidos pequenos. Unem-se uma vez por ano a outras esquerdas no Fórum Social Mundial para cantarem as glórias de democratas (risos intermináveis) como Hugo Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, Cristina Kircnher e Raul Castro. Entendem que a estatização da economia e a destruição da democracia representativa são medidas urgentes para a instauração do socialismo.
Em suma. A direita moralista entende que o golpe militar recola a moral em patamares aceitáveis. E a esquerda clássica considera que a ditadura do proletariado dá protagonismo à agenda social.
A duas alas políticas respiram por causa da democracia representativa, entretanto, anseiam destruí-la. Preocupante.
André Henrique – Cientista Político e Jornalista