(Reuters) – O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixou a cadeira da presidência da Casa e usou a tribuna, nesta sexta-feira, para responder acusações do presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de mentiroso e acusou de fazer uma articulação para desmoralizar seus adversários.

“Mais um episódio ocorrido ontem quando, infelizmente, o presidente da República mentiu em relação a minha pessoa. Aliás, muita coincidência, a narrativa que ele usou ontem e a narrativa que os ‘bolsominions’ usam há um ano comigo, em relação as MPs que perdem a validade nessa Casa, é a mesma narrativa”, disse Maia.

“É uma articulação conjunta para desqualificar e desmoralizar a imagem dos adversários do Presidente da República”, acrescentou.

Maia respondeu a ataques feitos por Bolsonaro na véspera. Durante sua live semanal, o presidente disse a seus seguidores que deveriam cobrar o fim do 13º salário do programa Bolsa Família do presidente da Câmara, que teria deixado caducar a MP que criou o pagamento em 2019.

Na verdade, o próprio governo decidiu deixar a medida expirar porque o relator, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), transformara o benefício em permanente e a equipe econômica afirmou que não havia recursos para isso.

Ao saber da fala de Bolsonaro, Maia afirmou que colocaria então a MP da prorrogação do auxílio emergencial para votar nesta sexta e criaria com ela o 13º do Bolsa Família. A posição do presidente da Câmara obrigou o governo a reagir e confirmar que Bolsonaro havia cometido um “mal entendido”.

Em entrevista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou que havia indicado que a MP não fosse votado porque não havia recursos, contrariado a fala do presidente.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), foi a plenário para “esclarecer a informação” e confirmou que a MP não foi votada a pedido do governo. “Não havia recursos para isso, e portanto, o Ministério da Economia pediu que essa medida não fosse votada”, disse, pedindo ainda que a MP da prorrogação não fosse colocada em votação porque seu efeito já havia sido cumprido, o que Maia acatou.

O governo temia que, na eventual votação dessa MP, a oposição conseguisse aumentar e estender o auxílio emergencial.

“ADVERSÁRIO”

Maia, que depois de seu discurso recebeu apoio de diversos líderes, inclusive da oposição, disse ainda que Bolsonaro foge das suas responsabilidades como presidente e que o país só não tem um novo programa social, ou um fortalecimento do Bolsa Família, por responsabilidade do presidente.

“Se o presidente da República tivesse tido coragem, podíamos estar discutindo o 13º do Bolsa Família aqui hoje, podíamos estar discutindo a expansão do auxílio emergencial aqui hoje”, disse Maia.

“Se hoje o governo não consegue promover uma melhora no Bolsa Família para esses milhões de brasileiros que ficarão sem nada a partir de 1º de janeiro, a responsabilidade é exclusiva dele (do presidente).”

Maia afirmou ainda que o Congresso assumiu a liderança durante a pandemia de Covid-19, aprovando medidas, enquanto o governo deixava de agir por causa do negacionismo do presidente e a inação de Guedes, que passou mês no Rio de Janeiro.

“Garantimos o país funcionando porque o negacionismo do governo e a depressão do ministro da Economia fizeram com que o Parlamento assumisse esse papel”, disse.

O presidente da Câmara, que tenta articular um nome para sucedê-lo na presidência da Casa para se contrapor ao líder do PP, Arthur Lira (AL), apoiado por Bolsonaro, disse ainda que continuará atuando contra a agenda de costumas do governo Bolsonaro, que evitou colocar em pauta em seu período à frente da Câmara.

Um dos motivos do apoio do presidente a Lira, já declarado por várias vezes, é a promessa de que o deputado irá levar adiante medidas barradas por Maia, como a ampliação do porte de arma.

“Estarei onde sempre estive: do lado da democracia, contra a agenda de costumes que divide o Brasil, que radicaliza o Brasil, que gera ódio entre as pessoas. E como essa é a agenda do presidente, eu continuarei sendo um leal adversário do presidente da República naquilo que é ruim para o Brasil e serei um aliado do governo, e não do presidente da República, nas pautas que modernizam o Estado brasileiro”, encerrou Maia.