Infelizmente, nos últimos meses temos vivenciado uma grande exposição na mídia de casos de violência doméstica contra mulheres que, em sua grande maioria, vivem relações tóxicas que terminam em tragédias ou deixam sequelas psicológicas profundas em suas vítimas. Mas de que forma podemos identificar se estamos em uma relação tóxica? Como sair dela e como classificar o tipo de violência sofrida dentro destas relações que parecem sedutoras e despretensiosas, mas ao final destroem a vida de uma pessoa e criam impedimentos psíquicos na construção de novas abordagens íntimas? A relação tóxica se esconde por trás de uma cortina de fumaça onde as pessoas enganam a si mesmas. Ninguém permanece em um relacionamento destrutivo porque gosta, mas sim pela impossibilidade de observar os comportamentos abusivos do outro.
Relacionar-se não é uma tarefa fácil. Qualquer interação entre duas pessoas é complexa. Nenhuma será equilibrada o tempo todo e nem envolverá seres humanos sempre sensatos. Em um relacionamento, de qualquer natureza (trabalho, amor, amizade, irmãos, pais e filhos) tendemos a depositar muita confiança e muitas expectativas nas ações e atitudes do outro. Mas, com o tempo, e conforme vamos aprofundando os relacionamentos, alguns sentimentos e sensações nada agradáveis podem surgir. O encantamento pode dar lugar a medos, mágoas, tristezas e rejeições.
Pessoas tóxicas geralmente são egoístas, preocupam-se apenas consigo e tornam-se vampiros emocionais, sugando o máximo do outro. Não admitem erros, exigem de forma extrema das pessoas e se colocam como superiores aos demais seres. Ao acreditar não estar a altura de ninguém, ou não ser suficientemente boa para o outro, as vítimas de quem possui um perfil tóxico, trazem impregnadas no espírito uma autoestima baixa e tendem a repetir ciclos viciosos, atraindo sempre pretendentes com essas mesmas características nocivas. E, como estratégia, o tóxico se aproveita da culpa que sua presa carrega para menospreza-la ainda mais e, assim, induzi-la a satisfazer suas vontades. Tentar diminuir o outro é uma atitude comum nas chamadas relações tóxicas.
O tóxico é atraído por pessoas de baixa autoestima, submissos, dependentes e fáceis de serem controladas. Usam de sedução e boa conversa para manter sua presa envolvida  em suas artimanhas. Além da ridicularização e do desdém, podem ocorrer mentiras, ofensas e manipulações. Em situações mais agudas, o desrespeito se amplifica e chega à violência física. O maior erro é quando, para melhorar a relação, nos colocamos em patamares inferiores e deixamos de ser nós mesmos para viver e agir conforme o desejo do parceiro. E nos frustramos, já que agradar passa a ser uma missão quase impossível.
A relação abusiva pode acontecer com qualquer um. Quem sofre com esse tipo de relacionamento pode apresentar sintomas de depressão, ansiedade e alterações de humor, além de transtornos alimentares, queda de cabelo, insônia, problemas respiratórios, problemas de pele e fobia social.
Faça uma autoanálise para identificar se a sua relação carrega características abusivas e verifique se existe a presença de sofrimento em sua relação, além de fatos pautados por intolerância e individualismos extremos.
Mas por que atraímos pessoas tóxicas? Muitas vezes o que nos incomoda no outro é um reflexo do nosso espelho. Você não é responsável pelo comportamento abusivo do outro. Mas pense que somos responsáveis pelos padrões que atraímos. Principalmente se forem constantes e repetitivos. Quando não aprendemos com uma experiência, somos presenteados com a oportunidade de vivenciar situações similares novamente, até aprendermos a lição que nossa parte inconsciente clama por consciência.
Alguns relacionamentos são resolvidos apenas quando nos afastamos, pois determinada pessoa só surge para trazer um ensinamento específico. A consciência de que nossa função nunca é mudar ninguém deve ser mantida, pois não nos cabe tal exigência. Mas quando mudamos, os outros mudam também. Afinal, o outro só faz conosco o que permitimos.
Mas para encontrar essa mudança, um importante (e difícil) passo é a compreensão de que, por mais que não sejamos responsáveis pelo comportamento tóxico e abusivo do outro, não é apeana o outro. É muito importante entender que precisamos sair do papel de vítimas para validar que podemos e merecemos receber o melhor que a vida tem a nos oferecer.
E o que fazer quando se percebe envolto em uma relação tóxica e destrutiva? Pegar para si a responsabilidade de zelar pela paz a dois não resolve. Responsabilizar o outro por todas as mazelas, também não. É preciso avaliar não os papéis de vilão e mocinho, mas a dinâmica. O principal é resgatar o amor próprio e a autoestima, ressignificar as experiências ruins, compreender o que faz você se sentir dessa forma e considerar o fato de que se afastar de pessoas assim pode ser a única saída para uma vida tranquila, uma vez que pessoas com esse perfil tóxico nem sempre estão propensas a modificações, principalmente se possuírem evidências de psicopatia. O abusador, provavelmente, age assim por já ter sido abusado – mas suas dores não podem justificar suas atitudes. Já o abusado deve entender que tipo de interação exerce na dupla e porque ainda está consumindo esse sofrimento.
O amor verdadeiro é aquele que te eleva e que te coloca no caminho da sua evolução, e não aquele que põe uma pedra em cima da sua semente a impedindo de crescer e florescer. O amor verdadeiro não tem razões para agredir moralmente, verbalmente, psicológicamente ou fisicamente, porque ele vem apenas para fazer o bem. Não se iluda com relacionamentos que não acrescentem. Respeite a si mesmo e entenda que o importante é não desistir de buscar ser feliz.  Todos merecemos uma construção familiar saudável, ou mesmo relações interpessoais equilibradas. Fortaleça seu inconsciente e entenda a força que tem. Ame-se acima de tudo e não permita que diminuam seu valor.
Enfim, a autoavaliação e o amor próprio são peças chaves para se curar de uma relação tóxica. Afinal, se você não se valoriza e não se ama, acha mesmo que os outros farão isso por você? Olhe para as relações em que está envolvido e perceba se virou refém da situação. Não permita, em hipótese alguma, a perpetuação de abusos físicos ou emocionais que interferem em sua felicidade. Busque ajuda de um profissional de saúde mental para que possa fortalecer sua personalidade e resgatar sua autoestima. Além disso, denuncie as agressões aos orgãos competentes o quanto antes. Não espere acontecer uma tragédia, como tantas que temos presenciado. Reflita e acredite em sua própria mudança.
Dra. Andréa Ladislau Psicanalista
* Doutora em Psicanálise
* Membro da Academia Fluminense de Letras – cadeira de numero 15 de
Ciências Sociais
* Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde
* Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social
* Professora na Graduação em Psicanálise
* Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US
Ambassador In Niterói
* Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em
Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo.
* Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint
Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.