O que é comum nas pautas de 7 de setembro cujos temas foram pátria, Deus e família com alguns outros momentos históricos recentes?

A história nos mostra que lideres autoritários sempre procuraram fundir sua imagem ao povo e a defesa da pátria, mesmo que o povo mencionado fosse apenas parcela de seus seguidores e a pátria uma simbiose de anarquia teocrática com oportunismo.

Antes e na 1ª Guerra Mundial, as Forças Armadas da Prússia tinham como lema: Por Deus, pelo rei e pela pátria. Como se sabe, foram essas forças que unificaram a Alemanha e na sequência patrocinaram duas guerras devastadoras.

O nazismo não era muito afeito à menção a Deus, embora a confusão entre o Füher e a pátria fosse algo comum tanto no nazismo quanto no fascismo com Mussolini. Tanto funcionava assim, que a família de combatentes mortos na 2ª Guerra Mundial recebiam uma mensagem de pêsames com a seguinte frase: Pelo líder, pelo povo e pela pátria.

Na essência da autocracia não há espaço para empatia ou ética, pois o que importa apenas é seguir o líder cegamente. E este líder não arrefecerá o discurso de defesa desses citados valores contra inimigos eleitos meticulosamente. Pouco importa se imaginários ou não, desde que sejam inimigos muito reais aos grupos manipulados.

O grande problema não resolvido que permitiu as tragédias de duas guerras mundiais é encontrado hoje também no Brasil: a democracia fraca e líderes lenientes que se escondem e realizam uma contabilidade política absolutamente irreal para esse momento de profunda crise institucional.

É um enorme equívoco acreditar que a escassez e miséria sejam necessariamente ruins para um líder autoritário, pois é exatamente nesse ambiente de caos que superstições, mentiras e crendices encontram caminho fértil.

Poderíamos destacar outros pontos de contato entre esses momentos históricos e o que vivemos hoje no Brasil, mas a existência de um líder autoritário por traz desses eventos é o ponto mais relevante.

Um líder manipulador, um país em crise, ausência de liderança política, grupos compostos por pessoas amedrontadas, oportunistas ou alienadas. Está aí a receita para o caldo de instabilidade vivido atualmente.

Talvez jamais houve um momento com tantos elementos perversos ocorrendo de forma simultânea que subverte toda a ordem da lógica política e jurídica brasileira.

O desfecho de crises deste tipo nunca ocorre sem sequelas.

 

Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais. MBA em Relações Internacionais. FGV/SP.