O fígado é o grande laboratório químico do organismo. Transforma os alimentos em moléculas que serão aproveitadas pelas células, participa do controle de várias substâncias vitais, como a glicose, o colesterol e os fatores de coagulação e desintoxica o organismo. Caso as células do órgão sejam afetadas pelo acúmulo de gordura, ele pode ter suas funções acometidas, resultando na esteatose hepática.

“Na maioria das vezes, a esteatose está associada a alterações metabólicas no organismo e, frequentemente ao estilo de vida inadequado, como excesso de peso e sedentarismo, que causam elevações de colesterol e triglicérides, e alterações do metabolismo da glicose, incluindo pré-diabetes e diabetes”, alerta a Dra. Patrícia Marinho Costa de Oliveira, consultora em Hepatologia do Grupo Fleury.

Em termos técnicos, a esteatose hepática ocorre quando há excesso de triglicérides nos hepatócitos. Como resultado de sobrepeso e obesidade, diabetes e dislipidemias, as células do fígado acumulam gordura em seu interior. Por se tratar de uma doença assintomática, é comum que o diagnóstico ocorra por meio de uma ultrassonografia de abdome. Outros exames podem também revelar sua presença de forma mais precoce, como a ressonância magnética, a biópsia hepática e a elastografia hepática, método guiado por ultrassom que verifica a elasticidade e condições do órgão.

Em São Paulo, os laboratórios Fleury Medicina e Saúde e a+ Medicina Diagnóstica realizam a elastografia por ultrassom com a técnica shear wave, que ocorre a partir do pulso de ARFI gerado pela sonda. O teste é indicado sempre que houver suspeita de fibrose em pacientes com doença hepática de qualquer causa, como doença hepática gordurosa, alcoólica, por hepatites B e C, mas em alguns casos pode não substituir a biópsia hepática.

Na elastografia por ultrassom com a técnica shear wave, o tecido hepático é induzido a uma onda de cisalhamento perpendicular, gerando uma imagem em modo B (escalas de cinza) e medindo a rigidez hepática.  Quanto maior for a rigidez do fígado, maior a velocidade de propagação. Ainda, há a possibilidade de avaliação morfológica hepática pelo modo B e do fluxo vascular pelo método doppler.

“São as condições clínicas que apontam as pessoas elegíveis para realizarem o teste, pois podem evoluir para um quadro de fibrose hepática, que tende a acirrar o desenvolvimento de complicações, como cirrose, insuficiência hepática e carcinoma hepatocelular. O diagnóstico de fibrose hepática em fase inicial é extremamente importante para a escolha do melhor tratamento, impactando diretamente no desfecho clínico”, explica a médica.

A Dra. Patrícia também ressalta que existem alguns fatores limitantes para a realização da elastografia, que podem interferir ou superestimar o grau da fibrose hepática como a obesidade (pessoas com IMC > 30kg/m2 podem ter a mensuração da possível rigidez hepática comprometida, pois a gordura atenua o ultrassom e a propagação das ondas), aumento das transaminases hepáticas e insuficiência cardíaca.

“A avaliação histológica por meio da biópsia hepática ainda é considerada padrão de referência para o estudo da fibrose hepática. No entanto, a elastografia, por ser um exame não invasivo, de baixo custo e sem risco de complicação, vem ganhando espaço no diagnóstico precoce e acompanhamento do progresso ou regressão da fibrose hepática”, afirma a doutora.

Para o tratamento, o melhor são as mudanças de hábitos, com foco em bem-estar e saúde. “Especialmente nos países ocidentais, a esteatose é uma causa emergente de transplante de fígado. Para a melhora do quadro o mais indicado é a perda de peso e atividade física. Se a causa for o álcool, a redução significativa ou abstenção são fundamentais. Vale lembrar que os medicamentos utilizados visam reduzir os danos metabólicos associados à esteatose e não têm efeito direto sobre a doença. O paciente deve ser constantemente lembrado e motivado a mudar o estilo de vida”, destaca a Dra. Patrícia.