Nos últimos anos, o interesse pelos alimentos orgânicos aumentou consideravelmente, criando um novo paradigma baseado na promoção de um estilo de vida saudável. Muitas vezes, quando compramos produtos “orgânicos”, nos perguntamos o que eles realmente são e se existe diferença entre o orgânico e o convencional.
De uma maneira geral, temos de um lado, a agricultura convencional que visa produzir frutas e legumes com uma aparência perfeita: o mesmo tamanho e volume, a melhor cor, a aparência impecável e a qualidade nutricional. Por outro lado, temos os alimentos orgânicos, que são identificados por especialistas, como aqueles que se preocupam com aspectos como a seleção natural das espécies e que garantem os ciclos reprodutivos, o patrimônio genético e a saúde do solo.
A saúde é um dos principais argumentos a favor do consumo de alimentos orgânicos e um dos aspectos mais controversos. Algumas pessoas pensam que têm maior teor de nutrientes, são mais gentis com o meio ambiente e são mais saudáveis do que os alimentos tradicionais. Mas será isso mesmo? O senso comum que está associado ao alimento orgânico é o fato de não usar insumos químicos, sugerindo que o uso de fertilizantes e defensivos agrícolas tornam o alimento menos saudável.
Alguns anos atrás a Food Standards Agency (FSA), agência de segurança alimentar do Reino Unido, publicou um relatório detalhado sobre os alimentos orgânicos. Suas conclusões foram como uma bomba: “Não há evidência de diferença na qualidade nutricional entre os alimentos da agricultura orgânica e os da agricultura convencional”. Portanto, os resultados desta pesquisa, que se baseia na revisão de 55 estudos relevantes realizados ao longo dos últimos 50 anos, não validam os produtos orgânicos como mais nutritivos.
Em contrapartida, o mercado orgânico vem se expandindo anualmente nos últimos 20 anos. E para se ter uma ideia, esse crescimento representa aproximadamente 25 bilhões de dólares em termos de faturamento global. Além disso, são produtos mais caros e representam uma pequena parcela no mercado total de alimentos. O público “típico” da agricultura orgânica costuma ser composto principalmente por mulheres e idosos. Esses critérios demográficos são encontrados em segmentos da população com bom acesso à saúde e que tem uma preocupação maior com o tipo da alimentação.
O sucesso desse segmento deve-se, em grande parte, à crença de que, ao evitar o uso de defensivos agrícolas e fertilizantes minerais (erroneamente conhecidos como fertilizantes químicos), aumenta a qualidade nutricional dos alimentos. No entanto, sabemos que esse pensamento pode ser infundado.
A revisão sistemática da literatura sobre agricultura e alimentação vem a confirmar o que muitos defendiam há muito tempo. Isso permite que os consumidores possam optar por alimentos da agricultura convencional ou por alimentos orgânicos, pois eles atenderão às necessidades nutricionais das pessoas.
Podemos, ainda, levantar alguns pontos importantes deste estudo. Por se tratar da revisão mais abrangente sobre as características dos alimentos orgânicos, alguns itens podem ter sido negligenciados, como é o caso da medição de antioxidantes e resíduos de defensivos agrícolas.
Nesse sentido, as discussões de comparação entre os orgânicos e convencionais podem ser totalmente inúteis, segundo a pesquisa. Apesar de algumas críticas à agricultura convencional pelo uso excessivo de fertilizantes minerais, no entanto, muitas propriedades orgânicas utilizam uma quantidade considerável de adubos orgânicos que, em altas doses, podem se tornar tóxicos, pois contém em sua composição mais poluentes do que os fertilizantes minerais.
Ao longo das últimas décadas, outros estudos foram realizados, gerando resultados bastante significativos que mostram a qualidade dos dois alimentos. Desta forma, os consumidores podem escolher os dados que respaldam suas crenças. Os defensores da agricultura orgânica podem citar, se quiserem, um relatório de 2007 da Universidade de Newcastle, mostrando que os produtos orgânicos contêm acima de 40% mais antioxidantes do que os produtos convencionais.
Já os defensores da agricultura convencional podem se apoiar em um estudo do ano 2000, no qual não foi encontrada nenhuma diferença nos teores de fenóis saudáveis em morangos e mirtilos orgânicos. Eles também podem apontar para um relatório de níveis mais altos de toxinas naturais em produtos orgânicos porque esses produtos foram cultivados sem o benefício de fungicidas sintéticos. Todos esses resultados são baseados em evidências científicas.
Desta forma, antes de resolver qual é o melhor alimento, convencional ou orgânico, deveríamos nos preocupar em incentivar as pessoas a consumir as cinco porções diárias de frutas e vegetais (o mínimo recomendado). Qualquer que seja o tipo de alimento, é sempre aconselhável escolher produtos frescos da época, de acordo com as suas possibilidades. Isso irá ajudar a comer mais saudável e de forma mais sustentável.