Com a entrada dos apartidários nos protestos, formou-se uma ambivalência: a) de caráter conflitivo, militantes de partidos e organizações de ???extrema esquerda??? tomaram as ruas e pediram a redução da tarifa de ônibus além de prometerem trabalhar em futuras mobilizações temas mais complexos como a tarifa zero e reformas agrária e urbana. A conferir. b) De caráter pacífico, anônimos engoliram os movimentos de viés marxista, tomaram as ruas, deram uma banana para os partidos e colocaram na mesa várias reivindicações que, ao fim e ao cabo, representam descontentamento deles com o processo político no Brasil. 

A insatisfação dos anônimos apartidários não é com a democracia representativa, como afirmam alguns intelectuais, e sim com a classe política. Os apartidários não querem a destruição da democracia representativa e sim o seu fortalecimento. Desejam o fim da impunidade, com políticos e servidores corruptos punidos e dinheiro público roubado de volta aos cofres. Anseiam por serviços públicos de qualidade, judiciário independente e leis que coloquem os criminosos na cadeia. Estes descontentamentos estavam presentes há tempos no coração dos brasileiros e agora explodiram. 
A presença dos apartidários pegou de calça curta os analistas (inclusive este que vos escreve) que imaginavam que o eleitor brasileiro apenas pensa com o bolso. ?? verdade que a questão das tarifas ??? casada com a inflação e o aumento do custo de vida ??? impulsionou as manifestações, mas ficou claro que os brasileiros, por mais que não tenham uma visão sistematizada dos fatos políticos, percebem que algo está errado nas relações entre os poderes e desejam o aperfeiçoamento das instituições, não querem o executivo absolutista, e desejam exterminar a sinecura. 
Os apartidários também pegaram de calça curta o governo federal. As peças publicitárias ufanistas do governo que mostravam que tudo seguia as mil maravilhas no país inventado pelo PT foram completamente para o ralo. O brasileiro mostrou que nem tudo que reluz no Brasil é ouro. No limite, o brasileiro quer debate e saber dos políticos o projeto para o Brasil do futuro. Este fato pode pesar positivamente nas eleições do ano que vem e paralisar o estilo maniqueísta de campanhas dos últimos anos baseadas em guerras de dossiês.
Dentro do balaio apartidário cabe de tudo: a) pessoas com viés mais liberal e direitista pedindo menos impostos e mais liberdade econômica para os indivíduos empreendedores e b) esquerdistas reivindicando por causas mais coletivas. Não há nos apartidários interlocutores com os quais o governo possa dialogar e, sem organização, o movimento não conseguirá perenidade e condições de condensar a agenda e definir prioridades. A agenda dos anônimos é um balaio de gatos, vai de questões que não se resolvem da noite para o dia e estão em debate no Congresso ( PEC 37) a pautas genéricas (fim da corrupção) e oportunistas: campanha virtual de impeachment da presidente Dilma e pedido de cassação do senador Renan Calheiros.   
Os apartidários deram tom mais pacífico às manifestações e mostraram que as insatisfações dos brasileiros não têm cor partidária e vão além das questões econômicas. O ???movimento??? dos anônimos vai evaporar mais cedo ou mais tarde, mas conseguiu coisas relevantes: suas questões serão debatidas nos parlamentos, na imprensa, nos fóruns virtuais e serão lembradas nas eleições.
Os grupos organizados devem encontrar um denominador comum com o governo e retomar a normalidade, do contrário, uma tragédia ocorrerá.  Ações terroristas crescem a cada dia. Lojas saqueadas. Caixas eletrônicos quebrados. Bases da polícia e de televisões incendiadas. Pessoas apanhando de manifestantes. Policiais armados e recuados dentro de agências bancárias e encurralados por indivíduos que tentam invadir prefeituras, palácios de governo e assembleias legislativas. Não é preciso ser gênio para saber que isto terminará em tragédia se não houver uma trégua.