Após mais de seis décadas desde a primeira transmissão de futebol pela televisão no Brasil, a era da monopolização dos jogos por um único meio parece ter chegado ao fim. Graças ao avanço da tecnologia e o surgimento de novos espaços de exibição, os eventos esportivos hoje são transmitidos por uma ampla gama de plataformas e canais, refletindo uma tendência crescente de descentralização do mercado. Se antes a disputa pelos direitos era algo exclusivo entre as emissoras tradicionais, tanto abertas quanto fechadas, hoje o streaming tem ganhado espaço nas negociações, abrindo espaço para que o público tenha liberdade de escolher a melhor forma para acompanhar seus times, atletas e competições favoritas.

O avanço desse meio é tamanho que já é possível até mesmo afirmar que boa parcela dos bons números de audiência no streaming são reflexo dos eventos do segmento. E, vale dizer, que não estamos falando de uma fatia pequena do mercado. Segundo o IBOPE, em janeiro, o consumo de serviços dessas plataformas no Brasil (incluindo Youtube e TikTok) foi de quase 25% dos aparelhos ligados. Ou seja, um em cada quatro TVs, smarTVs, celulares, laptops ou computadores ligados dentro de uma residência no país estão consumindo streamings.

Ao analisarmos friamente, não é tão difícil entender porque o jogo está virando. Pensando no esporte, a flexibilidade assegurada pelo streaming, por exemplo, é um diferencial pra lá de atrativo para o usuário. A possibilidade de assistir a partidas em tempo real, de qualquer lugar e a qualquer hora, sem estar atrelado à programação fixa de um canal de televisão, responde diretamente ao estilo de vida dinâmico da sociedade contemporânea.

Outro aspecto significativo da ascensão do streaming é a descentralização dos direitos esportivos, no qual permite que diferentes formatos de conteúdo alcancem os espectadores de forma mais próxima às suas preferências individuais. O fim da era do monopólio nos direitos de transmissão, que prevaleceu por muitos anos no país, abre espaço para um novo cenário em que cada pessoa assiste a uma mesma história, porém embalada do jeito mais agradável para si. Com o surgimento de novos players no mercado de transmissão, as narrativas ficam mais diversas e o apaixonado por esporte ganha novos conteúdos e opções para decidir onde e como consumir o seu evento favorito.

Mas o que isso tem de tão revolucionário? A verdadeira personalização da experiência. No streaming, o usuário passa a poder criar sua própria programação esportiva, algo impensável há poucos anos. Isso não apenas atende às expectativas de um público que valoriza a autonomia e a decisão de escolha, como também estreita laços com os fãs, transformando cada transmissão em uma experiência única e sob medida.

Com a chegada das transmissões esportivas aos streamings, o que temos percebido ainda é que apenas exibir o evento em si muitas vezes tornou-se insuficiente. Cada vez mais o público deseja consumir aquilo que ele gosta e o streaming conseguiu fazer desta perspectiva o seu grande diferencial. Sem as amarras características das grades televisivas, os meios de transmissão têm aproveitado a liberdade para ir além e transformar a forma com que consumimos o espetáculo. Os espectadores passam a ser agraciados por uma série de conteúdos complementares que enriquecem a sua experiência, como vlogs, conteúdos com torcedores direto do estádio ou arena, comentários durante o pré e pós-partida, reacts, e muito mais.

Além disso, outro avanço significativo ocorre na própria qualidade das transmissões em si. Com o avanço da tecnologia, as condições de imagem e som oferecidas pelas plataformas de streaming muitas vezes já superam a proporcionada por uma emissora de TV convencional. Isso sem falar na redução cada vez mais significativa dos atrasos nas transmissões ao vivo, conhecidas como latência, ou delay, que hoje é praticamente imperceptível nos principais serviços de streaming. Além disso, não há como não destacar as funcionalidades extras trazidas por essas plataformas que ajudam no enriquecimento da transmissão. A opção de rever momentos específicos dos jogos no momento que desejar e a apresentação de conteúdos e dados interativos sobre os eventos são alguns exemplos de conveniências que a transmissão televisiva tradicional não consegue igualar.

Todos esses benefícios, porém, trazem consigo novos desafios. A estabilidade das transmissões durante eventos de alta demanda é uma questão crítica que ainda precisa ser totalmente resolvida – embora as plataformas tenham conseguido driblar bem tal obstáculo com investimentos cada vez mais robustos em infraestrutura e tecnologia.

Curiosamente, outro problema se encontra justamente na descentralização dos streamings. Com tantas opções disponíveis e tantos eventos ocorrendo simultaneamente, não é raro se deparar com confusões e dúvidas quanto à compreensão de onde os jogos serão exibidos, principalmente neste início do processo de adaptação do público, uma vez que a cultura dos eventos esportivos no streaming ainda não está totalmente difundida, sobretudo entre as pessoas idosas.

Apesar disso, entendo que o streaming está driblando com maestria os desafios para proporcionar uma melhor experiência aos espectadores nas transmissões esportivas. A crescente receptividade do público não nos deixa mentir e abre a oportunidade para que novos players adentrem ao mercado.

*Chico Vargas é jornalista e head de conteúdo da Zapping, plataforma líder de streaming de TV da América Latina.