São Paulo contabilizou 49 mil partos prematuros até novembro de 2024, número 19% inferior aos 60.564 casos registrados em 2023. Os dados do Ministério da Saúde mostram trajetória de queda desde 2022, quando o estado somou 61.175 nascimentos antes das 37 semanas gestacionais.

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Os números positivos convivem com um desafio persistente na saúde reprodutiva, ilustrado por uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): 65,7% das mulheres paulistas já tiveram pelo menos uma gestação não planejada. O índice supera em mais de dez pontos a média histórica registrada na literatura médica, que variava entre 52% e 55%.

Desigualdade marca perfil das mulheres afetadas

partos prematuros

Foto: Freepik

O estudo entrevistou 534 gestantes entre 18 e 49 anos e foi publicado na revista The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care. A pesquisa revelou diferenças significativas entre grupos sociais, que podem refletir, dependendo do perfil socioeconômico das gestantes, em dificuldade em agendar obstetra em São Paulo.

As gestações não planejadas acontecem com frequência maior entre mulheres negras e pardas, que representam 74% dos casos. Mulheres com menor escolaridade somam 77% das ocorrências, enquanto as solteiras respondem por 85% e aquelas em união consensual por 72%.

Entre os fatores determinantes para o planejamento reprodutivo identificados pelo estudo estão etnia, grau de escolarização, renda própria, situação conjugal e número de filhos. Em entrevista ao G1, o pesquisador responsável pelo levantamento, Negli Gallardo-Alvarado, explicou que a investigação diferenciou três categorias de estado civil. “Encontramos que as chances eram maiores para mulheres solteiras, mas também para mulheres que moravam junto, em relação às mulheres casadas.”

O levantamento incluiu 52% de mulheres brancas, 53% com até 12 anos de escolaridade e 41% oficialmente casadas. “No Estado mais rico do Brasil, 65% das mulheres afirmarem que tiveram uma gravidez não planejada é algo muito grave”, declarou o orientador do estudo, Luis Bahamondes.

O Ministério da Saúde atribui a redução dos partos prematuros ao fortalecimento do pré-natal na Atenção Primária à Saúde. A prevenção depende de acompanhamento contínuo pela Estratégia Saúde da Família, com encaminhamento à atenção especializada quando há gestação de risco ou necessidade de procedimento ginecológico específico.

O governo federal lançou em setembro de 2024 a Rede Alyne, programa que qualifica o cuidado materno-infantil. A iniciativa oferece recursos para fortalecer o pré-natal, o atendimento durante a internação e o acompanhamento após alta hospitalar.

A coordenadora-geral de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e Jovens do Ministério da Saúde, Sonia Venancio, declarou oficialmente que “com assistência neonatal qualificada, é possível melhorar as condições de saúde desses bebês, promovendo um início de vida mais seguro e saudável”.

Brasil entre os dez países com maior prematuridade (partos)

No Brasil, um em cada dez nascimentos ocorrem antes das 37 semanas gestacionais. O país figura entre os dez com maior índice mundial de prematuridade. Os dados preliminares de 2023 apontam 303.144 casos. No ano passado, até novembro, foram notificados 245.247 partos prematuros.

A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia aponta que a prematuridade responde por aproximadamente 75% de toda morbidade e mortalidade neonatais. Entre os fatores de risco estão a gravidez na adolescência, o histórico anterior de parto prematuro e a gestação múltipla. Uso de álcool, cigarro e drogas ilícitas durante a gestação também elevam a probabilidade de nascimento antes do termo. Cuidados pré-natais inadequados e infecções completam o quadro de causas.

Políticas públicas como caminho

Pesquisadores destacam a necessidade de ampliar políticas públicas de saúde, como fornecimento de contraceptivos de longa duração. Exemplos são o dispositivo intrauterino com hormônio e o implante hormonal, aliados ao planejamento a longo prazo. Os especialistas ainda defendem que garantir acesso à educação é mais um caminho para combater o problema.

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