Apenas duas candidatas abraçaram a pauta LGBTQIAPN+ nas eleições para vereadora este ano em Americana. A cidade não tem nenhuma candidatura trans ou do público gay masculino.
O NM falou brevemente com as duas candidatas para tentar entender seus projetos e o porque tão poucas candidaturas desta importante minoria.
Maria Galhani (PSol) respondeu aos questionamentos do NM.
1- Porque tão poucas candidaturas das pautas LGBTQ em Americana?
Maria Galhani – Apesar de ter outras pessoas LGBTQIAPN+ candidatas esse ano, infelizmente ainda há um estigma na cidade de que é muito conservadora e que não há espaço para falar dessa pauta.
É fato que nossas existencias não se resumem a nossas orientações sexuais e identidade de genero, pois temos nossas profissões e interesses pessoais, mas secundarizar a pauta por medo de “perder voto” é se obrigar a voltar para um armário e desestimula a própria comunidade LGBTQIAPN+ da cidade, que acaba se sentindo subalternizada e sem representante.
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2- Quais temas da comunidade são carentes na cidade?
Maria Galhani – Precisamos ainda falar do mais basico que é a visibilidade das nossas existencias em Americana. A criação do conselho municipal LGBTQIA+, organização da parada do orgulho com coletivos e artistas locais, e politicas de saude/educação/inclusão que sequer existem
3- Algum dia o interior (Americana) vai deixar de ter o sexo gay como algo tão escondido ou enrustido?
Maria Galhani – Acho que nem é questão de sexo gay, mas sim o desvio da cis-heteronormatividade. A verdade é que nós população LGBTQIAPN+ precisamos começar a exigir nossas presenças nos espaços, por isso que levantar a bandeira do orgulho na campanha é tão importante e eu faço tanta questão de estar fazendo. Tem muito LGBTQIAPN+ vivendo nas nossas cidades, mas acabamos nos sentindo sozinhos e isolados. Por isso que, apesar de estarmos levantando outras pautas relevantes pro municipio, tenho esse esforço de marcar a presença de que tenho muito orgulho e luto contra o estigma.
Abaixo as respostas de Stephanie Avari, do PDT.
Porque você acha que são tão poucas candidaturas que defendem as pautas LGBTQ em uma cidade com população tão importante neste grupo minoritário?
Stephanie Avari – Infelizmente, o preconceito e conservadorismo ainda são muito fortes em cidades do interior como Americana, o que gera um receio enorme entre as pessoas para se envolverem na política.
Em 2023 houve um aumento de 42% das mortes de pessoas LGBTQIAPN+ no Brasil, e esse é um dado que não pode ser ignorado quando falamos sobre a insegurança que um candidato sente ao falar abertamente sobre sua sexualidade.
Se, por um lado, isso mostra que estamos denunciando mais os crimes de LGBTfobia, por outro, escancara a falta de preparo das forças públicas e o descaso das autoridades e políticas atuais. O medo de sofrer ataques, físicos ou verbais, faz com que muita gente evite se expor e, consequentemente, evite entrar no meio político ou se assumir publicamente, seja por medo, falta de recursos ou apoio dos partidos e políticos tradicionais.
Eu nasci e cresci em São Paulo, onde a representatividade e as políticas de inclusão são mais visíveis, e mesmo assim é desafiador conseguir o apoio necessário. Minha esposa, Sarita, é de Americana, e depois de nos casarmos, decidimos viver aqui porque acredito muito no potencial que a cidade tem. No entanto, me preocupa muito perceber o descaso em relação às políticas públicas para a nossa comunidade e a invisibilidade das famílias que aqui existem, e são muitas!
Acredito que, ao ocupar esses espaços, podemos inspirar mais pessoas para mudar essa realidade, fazendo uma política mais inclusiva, e que nossas famílias sejam reconhecidas e aceitas.
2 – Quais temas da comunidade são carentes na cidade?
Stephanie Avari- Há uma clara falta de políticas voltadas para a inclusão e capacitação da comunidade LGBTQIAPN+ em Americana. Isso resulta não apenas na ausência de representatividade nos espaços e cargos públicos, mas também em um acolhimento deficiente, o que impede que muitas pessoas se sintam realmente incluídas em sua própria cidade. Um dos grandes problemas que enfrentamos é que muitos acabam deixando Americana em busca de locais com menos preconceito e mais oportunidades. Essa saída faz com que talentos valiosos não sejam vistos ou ouvidos aqui, privando a cidade de contribuições importantes.
É urgente a criação de um comitê que possa discutir e implementar políticas que garantam espaços seguros e acolhedores, além de programas de capacitação que promovam a inclusão no mercado de trabalho, o desenvolvimento profissional e educacional. O preconceito ainda impede muitas pessoas de conseguirem emprego ou serem respeitadas em suas profissões. Também é essencial investir em campanhas de conscientização que promovam o respeito à diversidade e oferecer suporte psicológico para quem enfrenta discriminação e exclusão.
Meu objetivo é desenvolver projetos que promovam a inclusão, para que todos possam viver com dignidade, sem precisar abandonar suas raízes em busca de oportunidades, e com a confiança de serem quem realmente são. Como mulher lésbica, conheço os desafios que enfrentamos e a importância de termos voz e espaço em nossa cidade.
Algum dia o interior (Americana) vai deixar de ter o sexo gay como algo tão escondido ou enrustido?
Stephanie Avari- Eu acredito que sim, mas essa mudança depende de todas as pessoas. A pergunta em si reflete um tipo de preconceito que ainda persiste e estigmatiza qualquer sexualidade que não seja a heterossexual. Em Americana, assim como em muitas cidades do interior, o preconceito é silencioso mas muito presente. Muitas pessoas vivem com medo de serem quem realmente são e se diminuem para se encaixar em um padrão, o que faz com que os índices de depressão entre pessoas LGBTQIAPN+ sejam alarmantes, muitas vezes devido à rejeição familiar e social.
É fundamental compreender que ninguém precisa ou merece viver escondido. O acolhimento é a chave para transformar esse ciclo de invisibilidade. Lutar por uma cidade mais diversa não significa que Americana perca seus valores ou que a família considerada tradicional deixe de existir; pelo contrário. Essa luta fortalece todas as famílias e nos torna melhores e mais fortes como sociedade. Precisamos que esse apoio venha também de fora da nossa comunidade. Só com o envolvimento de todos, reconhecendo que os direitos LGBTQIAPN+ são direitos humanos, poderemos viver em uma cidade onde o amor é livre para todos e por todos.
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