No mês de junho eclodiram várias manifestações nas principais metrópoles do país e a pauta que se destacou é a de insatisfação dos cidadãos com a impunidade e o desperdício de dinheiro público. A sociedade demonstra insatisfação com a lógica fisiológica do “toma lá da cá” dominante na política brasileira. PT e PSDB são os principais partidos do país com agendas minimamente republicanas, no entanto, uma vez no poder, entregam dedos e anéis a grupos clientelistas em troca de governabilidade.
PT e PSDB disputam o poder sem colocar na mesa projetos, preferem a troca de acusações mútuas e assim como os demais partidos transformaram as campanhas eleitorais em praças de guerra. O número de abstenções aumenta a cada eleição. Os partidos não possuem programas ideológicos e se transformaram em balcões de negócios, com isso, movimentam a engrenagem fisiológica e alimentam a corrupção e o desperdício de dinheiro público, repudiados nas ruas. A política passa a ser meio de vida e não esfera por meio da qual se luta pelo bem comum.
Os empréstimos do TESOURO para empresas construírem arenas de futebol para a COPA DO MUNDO não foram bem digeridos pela sociedade e colaboram para o sentimento de insatisfação generalizada daqueles que desejam que seus impostos sejam traduzidos em serviços públicos de qualidade e não em desperdício e corrupção. A inflação ajuda a aumentar o custo de vida e assim está formado o caldeirão para a explosão social.
O descontentamento da população com a classe política eleva a confiança do cidadão em figuras descoladas dos partidos tradicionais, Marina, do REDE, e Joaquim Barbosa, que não pertence a partido nenhum. Ambos surgem bem colocados em pesquisas de intenções de votos. O ministro do STF relatou o processo do mensalão que levou à condenação políticos e empresários de renome. Barbosa é visto como rei da pureza por moralistas. A aposta cega nele mostra a perigosa fé de alguns cidadãos em salvadores de plantão e não no fortalecimento das instituições. Os gritos das ruas nem sempre são racionais.
O momento é de perplexidade. As agendas dos manifestantes são difusas. Os políticos tentam dar respostas apressadas a questões complexas, que necessitam de construção política morosa, a exemplo da reforma política, que perpassa por vários temas delicados que vão desde a forma de financiamento das campanhas a mudanças no sistema eleitoral e político. A pressa pode ser inimiga da democracia.
O governo federal continua a apostar na “genialidade” de marqueteiros que, no momento, só fazem gol contra o governo federal. Após o primeiro pronunciamento da presidente Dilma, a propaganda ecoou: “Brasil, um país rico e sem pobreza”. Slogan na contramão do que pensam os manifestantes. Falta política, sobra marketing (justo em um governo do PT, quem diria). O governo federal subestima a inteligência do cidadão e não percebe que a população não engole mais a história de Brasil sem miséria, lindo, perfeito, maravilhoso e fortão. ?? óbvio que os governos Lula e Dilma promoveram mudanças profícuas na área social, mas o Brasil real é composto também de serviços públicos precários, corrupção e agora a inflação etc.
Conseqüências eleitorais:
A avaliação positiva da presidente Dilma era de 57% no começo de junho e agora despencou para 30%. O governador de São Paulo saiu de 52% e caiu para 38%. Outros governadores e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também sofreram estragos parecidos.
A desidratação da presidente Dilma pode culminar na deserção de partidos da base aliada e inviabilizá-la como candidata. Lula poderá ressurgir na arena petista. José Serra dificilmente terá espaço no PSDB e a possibilidade de ele aceitar o convite de Roberto Freire e integrar o MD aumenta. José Serra obteve 44 milhões de votos na última eleição e pode reaparecer como candidato à presidência da República e contar com apoio do PSD, de seu aliado Gilberto Kassab, que, no momento, encontra-se no flanco dilmista.
Marina aparece em segundo nas pesquisas, com 24%, contra 30% da presidente Dilma e 17% de Aécio Neves, a ex-ministra do governo Lula por estar descolada dos partidos tradicionais tem chance de se destacar como alternativa, a fraqueza de seu partido atrapalha. PSDB tem mais condições de mobilizar apoio financeiro e midiático. Sem ter feito muito para merecer a atual conjuntura, a oposição deve agradecer aos céus os 17% do ainda “não-nacional” Aécio Neves. A provável saída de Serra do PSDB causaria estragos nos frontispícios de Alckmin e Aécio. Eduardo Campos não ata nem desata.
O quadro atual não era esperado por nenhum analista político deste país há um mês. Em tempos em que tudo que é sólido se desmancha no ar, os próximos meses são imprevisíveis. A eleição está longe. Mas o quadro mudou radicalmente. As três mudanças mais evidentes: a) o clima de WO desapareceu da disputa pela presidência da República; b)Serra e Lula hoje estariam de volta à cena; c) em vários governos estaduais o jogo também zerou, em São Paulo Geraldo Alckmin perdeu capilaridade e Paulo Skaf se consolidou em segundo.