Artigo: Joaquim Barbosa e a onda de herói

Política crítica,

Artigo: Joaquim Barbosa e a onda de herói

23 de janeiro de 2014

Como relator da ação 470, o ministro Joaquim Barbosa, atual presidente do STF, alcançou o patamar de personalidade política mais relevante do biênio 2012-2013. Odiado por uns e amado por tantos, Barbosa figura pesquisas de intenções de votos e é tratado por alguns como salvador da pátria. Complicado. Indivíduos não equacionam questões crônicas de um país com varinha mágica ou com toga de Batman. Problemas sociais são provocados por processos e, portanto, as soluções dependem de construções políticas e coletivas. A ação 470 foi edificada por várias mãos. Das CPIs (Correio e Mensalão), ao Ministério Público (MP), à Polícia Federal (PF) e aos demais ministros, que esboçaram votos importantes, em termos de conteúdo, no decorrer do julgamento. Joaquim Barbosa teve de se curvar aos rituais institucionais e à lei, não resolveu o processo do mensalão sozinho.   Joaquim Barbosa não é divindade. Uma vez na presidência da República, ele teria de formar maiorias no Congresso, arregimentar bases na sociedade para se impor no jogo de correlações de forças, suportar chantagens, sabotagens, pedidos de favores, enfim, o ministro enfrentaria as mesmas dores de cabeça que assolam governantes no Brasil e no mundo. Barbosa cumpriu sua obrigação de juiz, merece a notoriedade, todavia, trata-se de exagero transformá-lo em demiurgo, tanto quanto estigmatizá-lo como algoz do PT, patrocinado pela burguesia golpista.    Os brasileiros acreditaram que Jânio Quadros varreria a imoralidade para o além, que Fernando Collor acabaria com os marajás, na base do soco na mesa; que os militares fariam da pátria o berço da moral e da ordem, os resultados são conhecidos. Os milicos, bastiões da moralidade, deixaram como legado uma estrutura de estado corrupta, que oferece privilégios descabidos a castas de servidores, vários deles do poder judiciário, inclusive o senhor Joaquim Barbosa, o santo. Com o advento da democracia, o estado brasileiro ainda não se livrou completamente da sinecura patrimonialista, entretanto, não será um super-homem que irá fazê-lo, as mudanças ocorrerão por meio de debates e lutas políticas, no exercício da democracia, e dependem de vários atores políticos e sociais. 

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23 de janeiro de 2014

Como relator da ação 470, o ministro Joaquim Barbosa, atual presidente do STF, alcançou o patamar de personalidade política mais relevante do biênio 2012-2013. Odiado por uns e amado por tantos, Barbosa figura pesquisas de intenções de votos e é tratado por alguns como salvador da pátria. Complicado. Indivíduos não equacionam questões crônicas de um país com varinha mágica ou com toga de Batman. Problemas sociais são provocados por processos e, portanto, as soluções dependem de construções políticas e coletivas. A ação 470 foi edificada por várias mãos. Das CPIs (Correio e Mensalão), ao Ministério Público (MP), à Polícia Federal (PF) e aos demais ministros, que esboçaram votos importantes, em termos de conteúdo, no decorrer do julgamento. Joaquim Barbosa teve de se curvar aos rituais institucionais e à lei, não resolveu o processo do mensalão sozinho.   Joaquim Barbosa não é divindade. Uma vez na presidência da República, ele teria de formar maiorias no Congresso, arregimentar bases na sociedade para se impor no jogo de correlações de forças, suportar chantagens, sabotagens, pedidos de favores, enfim, o ministro enfrentaria as mesmas dores de cabeça que assolam governantes no Brasil e no mundo. Barbosa cumpriu sua obrigação de juiz, merece a notoriedade, todavia, trata-se de exagero transformá-lo em demiurgo, tanto quanto estigmatizá-lo como algoz do PT, patrocinado pela burguesia golpista.    Os brasileiros acreditaram que Jânio Quadros varreria a imoralidade para o além, que Fernando Collor acabaria com os marajás, na base do soco na mesa; que os militares fariam da pátria o berço da moral e da ordem, os resultados são conhecidos. Os milicos, bastiões da moralidade, deixaram como legado uma estrutura de estado corrupta, que oferece privilégios descabidos a castas de servidores, vários deles do poder judiciário, inclusive o senhor Joaquim Barbosa, o santo. Com o advento da democracia, o estado brasileiro ainda não se livrou completamente da sinecura patrimonialista, entretanto, não será um super-homem que irá fazê-lo, as mudanças ocorrerão por meio de debates e lutas políticas, no exercício da democracia, e dependem de vários atores políticos e sociais. 

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