Bichectomia em alta: e o envelhecimento precoce do rosto?

Na busca pela melhor aparência, os procedimentos estéticos possuem resultados satisfatórios que melhoram a autoestima e mudam positivamente a vida das pessoas. Entretanto, também existe o outro lado: há procedimentos que podem afetar, tanto a harmonia dos traços do rosto, quanto o emocional dos pacientes de forma bastante negativa. Um exemplo disso é a bichectomia.

A intervenção, que voltou a estar na moda há cerca de quatro anos, requer alto grau de análise prévia já que seu princípio se baseia na retirada permanente da gordura na região da bochecha – a chamada bola de Bichat.

Realizada com o objetivo de conquistar um rosto mais fino, em alguns casos a bichectomia pode trazer muita decepção. Os perigos, alertados por influenciadoras digitais como Jéssica Frozza, que usou as redes sociais para relatar sua péssima experiência pessoal, voltaram à tona e estão em evidência na mídia. Além disso, há perfis que vêm ganhando destaque por divulgarem imagens de antes e depois de resultados insatisfatórios da operação, como é o caso da página no Instagram @vitimasdabichectomia.

O médico cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Victor Cutait, afirma que o resultado final a longo prazo tem altas chances de ser insatisfatório tanto fisicamente, já que deixa o rosto com aparência muito fina e desigual, quanto emocionalmente, pois, o procedimento, que deveria aumentar a autoestima, tem efeito totalmente contrário e abala a autoconfiança dos pacientes.

Outros problemas incluem lesões do nervo facial, gerando paralisia, hemorragias, assimetria facial e infecções. “A gordura é essencial para sustentação da face e, muitas vezes, não é nossa inimiga. Influenciadoras e a mídia trazem a bichectomia, que é a retirada da gordura, como uma operação com ótimos resultados, já que, no primeiro momento, o rosto realmente aparenta harmonia. Mas, a longo prazo, depois de cerca de dois anos, o procedimento pode minimizar drasticamente a gordura e sustentação do rosto, causando envelhecimento precoce, olheiras e flacidez”, explica o cirurgião.

Bichectomia em alta: e o envelhecimento precoce do rosto?

Apesar da cirurgia ser relativamente simples e pouco invasiva, o especialista adverte que há uma certa “banalização” do uso e que a operação é mais complexa do que centros estéticos demonstram. “Essa região é ligada a uma área muito delicada da face: próxima a várias terminações do nervo facial, ducto parotídeo, por onde a saliva circula da glândula parótida para a boca, e dos principais vasos sanguíneos da face.

Cirurgia da moda de tempos em tempos

O médico também aponta que a cirurgia existe há cerca de 60 anos e, ao longo dos anos, tem picos de modismos. “A bichectomia é solicitada eventualmente no meu consultório por pacientes que desejam um rosto menos redondo e, na maioria dos casos, eu não recomendo a operação, pois traz mais resultados negativos do que positivos. Há também situações em que o rosto tem aparência mais alongada e arredondada em razão de outras causas e não da bochecha, como a hipertrofia do músculo masseter, sendo assim, a retirada da gordura da bochecha não resulta na aparência mais fina do rosto”, revela o profissional.

O mesmo tipo de alerta faz a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que realizou a campanha ‘Bichectomia: Não é tão simples quanto parece!’, em 2019, com o objetivo de demonstrar que a operação pode gerar distorções anatômicas que podem piorar com o envelhecimento.

Mulheres 50+ brilham no Oscar com pele impecável

A gordura da bola de Bichat é essencial, pois ajuda a manter o rosto com formato e estrutura adequados, mais jovial, além de ser muito importante para sustentar a musculatura da face. “A gordura na região também atua como um amortecedor de impactos, além de ajudar nos movimentos de mastigação e, a retirada da gordura pode, em casos específicos, trazer benefícios, mas é preciso muita cautela para que o resultado não seja o de envelhecimento precoce e desestruturação da face que, infelizmente, é irreversível”, revela o especialista.

“Nos últimos tempos, esse e outros procedimentos estéticos vêm sendo realizados por profissionais que não dominam suas técnicas plenamente e isso pode resultar em mais chances de resultados pouco satisfatórios. Por isso, considero ser essencial que a pessoa opte sempre por um cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica”, finaliza.

Victor Cutait possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Marília (2001) com especialização em cirurgia plástica pelo Instituto Brasileiro de Cirurgia Plástica, em São Paulo. Ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), professor de cirurgia plástica da Universidade Nove de Julho (UniNove) e dirige a Clínica Cutait Cirurgia Plástica, especializada em Cirurgia Plástica, Dermatocosmiatria e Fisioterapia Dermatofuncional. O médico cirurgião é pioneiro em lipoaspiração fracionada no Brasil.

 

Siga o Novo Momento no Instagram @novomomento