G1.com – O Corpo de Bombeiros de São Paulo diz que o projeto técnico da Arena Corinthians ainda não foi apresentado para avaliação final e que, dessa forma, segundo nota divulgada para o G1, “o estádio não está seguro para receber o público, tendo em vista que ainda não se adequou à legislação vigente e não possui o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros”.
De acordo com o major Sidnei Turato, o clube ainda tem 26 irregularidades apontadas no projeto para responder, ainda não informou a lotação exata do estádio nem como as pessoas podem sair em caso de emergência. Se o projeto técnico de segurança contra incêndio não for modificado, os bombeiros dizem que não podem emitir o “auto de vistoria”, documento que é exigido pela prefeitura para emitir um outro documento, o Habite-se, que atesta a conclusão da obra. Depois do Habite-se, ainda será preciso que a prefeitura autorize que o estádio sirva como “local de reunião de pessoas” para que receba o jogo de abertura da Copa do Mundo, marcado para daqui a dois meses.
A Odebrecht e o Corinthians dizem que “várias sugestões de ajustes já foram incorporadas ao projeto” e que pretendem entregar os documentos aos bombeiros, já com as correções, “provavelmente ainda nesta semana”.
Os bombeiros têm, por lei, 30 dias para fazer a vistoria após a aprovação do projeto, mas dizem que analisarão o caso assim que receberem a resposta.
Cerca de 65 mil pessoas são esperadas para a partida de Brasil x Croácia, em 12 de junho. A Odebrecht promete entregar a arena finalizada ao Corinthians daqui a 14 dias.O projeto técnico está em avaliação desde 2012. Em agosto daquele ano, os bombeiros localizaram 50 irregularidades. A Odebrecht reformulou o projeto, que foi reanalisado pelos bombeiros.
Alguns problemas foram solucionados e outros novos surgiram, explica o major Turato, que é da área de fiscalização de projetos contra incêndio e acompanha atualmente a situação da Arena Corinthians.Em 16 de abril de 2013, da nova análise, permanecem 26 itens que envolvem principalmente as saídas de emergência e o controle de fumaça. Os bombeiros pediram ainda que as escadas externas fossem “protegidas” (cobertas) e que fossem colocados detectores de incêndio, portas corta-fogo e barras antipânico.
Segundo os bombeiros, um estudo feito pelo clube mostrou que alguns torcedores podem levar até 11 minutos para abandonar o estádio ou chegar a um local seguro. O limite da legislação estadual é de 8 minutos. O Corinthians diz que a nova versão do projeto, que ainda vai ser entregue, vai atender ao prazo máximo exigido.
Ao G1, a Odebrecht e o Corinthians dizem que “o estudo atual, revisado, garante a evacuação do público em no máximo 8 minutos” e que “todas as medidas solicitadas pelos bombeiros estão sendo atendidas”.
As saídas de emergência não atendem o decreto estadual 56.819 de 2011, que regulamenta o projeto sobre prevenção de incêndios, segundo o major Turato. Conforme a norma, toda pessoa que estiver dentro do estádio tem que conseguir chegar do lado de fora ou em um lugar seguro em, no máximo, oito minutos.
Na Arena Corinthians, um estudo realizado pela Steer Daves Gleav, contratada pelo empreendimento, apontou que, em alguns lugares, o público poderia levar até 11 minutos, dizem os bombeiros. A empresa confirmou ao G1 que fez a análise de fluência do público no Itaquerão, mas afirmou que, por força de contrato, não podia divulgar o documento.
???O ideal é fazer um projeto antes da construção, mas eles foram fazendo a obra sem o projeto. Agora, é preciso fazer mudanças na estrutura para anteder às regras. Para os bombeiros, tanto faz o arranjo que fizerem, desde que as pessoas estejam em 8 minutos lá fora ou em segurança???, explica o oficial.Em reuniões seguintes, o clube apresentou um estudo que mostrava dificuldades para os torcedores deixarem a Arena no tempo máximo.
Entre as medidas paliativas apontadas estava a retirada das três primeiras fileiras horizontais da arena ou uma fileira vertical de cada lado da saída de emergência. “Pelo estudo, isso resolveria???, explica o oficial.
Em outubro de 2013, os responsáveis pela obra levantaram outra hipótese: em um pedido de parecer técnico, questionaram se os bombeiros aceitariam a configuração das escadas abertas para emergência. Uma comissão analisou o caso e publicou no Diário Oficial do estado, em 10 de janeiro, o veredicto: o pedido seria aceito desde que fossem cumpridas algumas exigências para não ocorrer acúmulo de fumaça, como a instalação de sistemas de detecção de incêndio e chuveiros automáticos.
???As escadas têm que ser fechadas, para que as pessoas, quando chegarem naquele lugar, estejam seguras. Mas o clube quer deixar aberto. Os bombeiros aceitaram, desde que outras medidas de proteção sejam colocadas???, afirma o major. Desde então, não houve mais manifestações por parte da construtora e dos responsáveis pela obra.Diante da demora em uma resolução, o comandante da corporação enviou em 29 de outubro de 2013 um ofício ao Ministério Público pedindo apoio. No texto, o coronel dizia que o projeto estava, até então, reprovado: ???considerando a morosidade na correção das inconformidades constatadas na análise do Projeto Técnico de Segurança Contra Incêndio do referido estádio, inviabilizando até o momento a aprovação pelo Corpo de Bombeiros???.Proximidade da Copa
“A Copa está chegando e nossa maior preocupação é com a segurança e com as saídas de emergência, que não estavam adequadas conforme as exigências da legislação estadual. Até hoje não nos apresentaram os documentos???, diz o major Sidnei Turato.Em novembro do ano passado, a corporação acionou o Ministério Público para acompanhar as adequações.
Ao G1, o promotor de Habitação e Urbanismo de São Paulo, José Carlos de Freitas, afirmou que irá intimar o clube a construtora para que resolvam os problemas ainda pendentes ???com urgência???. “Os bombeiros haviam pedido correções complementares, que o Corinthians se comprometeu a fazer. Não dá para resolver isso na véspera da inauguração???, afirma ele.
Três mortes na obra – As falhas apontadas pelos bombeiros se somam a outras preocupações recentes do clube com o cumprimento de prazos. Na segunda-feira (31), as obras de parte das arquibancadas foram embargadas por folta de segurança. No fim de semana, um operário morreu após uma queda. Foi a terceira morte desde o início das obras.